Exorcismos na CNN: quando a crise da alma é reduzida a um problema de saúde mental

A CNN decidiu olhar para um tema que, para a Santa Igreja, nunca foi folclore nem entretenimento: a realidade do exorcismo. No episódio “Os Exorcistas”, exibido no programa The Whole Story with Anderson Cooper (A verdadeira história com Anderson Cooper), o correspondente David Culver percorre o Arizona para investigar o aumento expressivo de pedidos de exorcismo nos Estados Unidos. O que poderia facilmente escorregar para o sensacionalismo televisivo acaba revelando algo muito mais profundo — e preocupante — quando confrontado com a fé, a doutrina e a experiência pastoral da Igreja.

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O documentário apresenta cenas raras de rituais de libertação em diferentes denominações cristãs: garagens transformadas em “santuários”, igrejas familiares que promovem noites de libertação e até ministros que oferecem sessões individuais, algumas delas mediante pagamento. Esse panorama evidencia uma realidade fragmentada, na qual a ausência de critérios doutrinais, de discernimento espiritual e de acompanhamento médico abre espaço para abusos graves. A Associação Internacional dos Exorcistas há anos alerta que a prática do exorcismo, quando dissociada da autoridade da Igreja e do rigor exigido pelo Ritual Romano, deixa de ser um ato pastoral e passa a se tornar um risco espiritual e humano.

No centro da reportagem estão dois bispos católicos do Arizona: Dom Gerald Frederick Kicanas, da Diocese de Tucson, e Dom John Dolan, da Diocese de Phoenix. Ambos reconhecem o crescimento do sofrimento humano, mas oferecem perspectivas distintas sobre como a Igreja deve responder. Dom Dolan, marcado pela perda de três familiares para o suicídio, defende com clareza que muitas das pessoas que buscam exorcismos necessitam, antes de tudo, de tratamento sério em saúde mental. Seu posicionamento ecoa a orientação oficial da Igreja: antes de qualquer exorcismo, deve haver criteriosa avaliação médica e psicológica, justamente para não confundir doenças com ação extraordinária do maligno.

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Dom Kicanas, por sua vez, não nega a urgência dos cuidados psiquiátricos, mas chama atenção para um ponto sensível: quando o Estado falha e os serviços de saúde se tornam inacessíveis, as pessoas desesperadas continuam batendo à porta da Igreja. Nesse contexto, a presença pastoral não pode ser simplesmente negada. A Igreja não substitui a medicina, mas também não abandona aqueles que sofrem. Essa tensão — entre acolher e discernir — está no coração da missão pastoral católica e exige maturidade espiritual, formação e obediência às normas da Igreja.

O documentário, no entanto, revela distorções alarmantes. Ministros evangélicos cobrando centenas de dólares por supostos exorcismos, pessoas sendo informadas de que sua herança indígena ou mexicana seria uma “maldição”, crianças sendo contidas fisicamente durante rituais e casos de epilepsia tratados como possessão demoníaca. Esses abusos não apenas ferem a dignidade humana, como confirmam o que a Igreja sempre ensinou: onde falta doutrina, sobra confusão; onde não há autoridade legítima, o sofrimento é explorado.

Para o olhar católico, é essencial reafirmar uma verdade muitas vezes ignorada pela mídia: a Igreja Católica é a instituição que mais exige prudência no tratamento desses casos. O exorcismo solene é raro, extremo e só ocorre com autorização expressa do bispo, após rigoroso discernimento. Como ensinava o padre Gabriele Amorth, um dos maiores exorcistas da história da Igreja, a maioria das pessoas que procuram um exorcista não está possessa, mas ferida — espiritual, psicológica ou emocionalmente. Confundir essas realidades não ajuda ninguém.

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Ao tentar enquadrar o fenômeno principalmente como um “apocalipse da saúde mental”, parte da análise corre o risco de cair em outra redução perigosa: a de negar completamente a ação extraordinária do demônio, algo que a Igreja nunca fez. A fé católica não opõe saúde mental e espiritualidade; ao contrário, integra ambas à luz da razão e da Revelação. O Catecismo, o Ritual Romano e os documentos da Santa Sé são claros: o sofrimento humano pode ter múltiplas causas, e o discernimento verdadeiro jamais ignora nenhuma delas.

O mérito do episódio da CNN está em expor os abusos e provocar um debate necessário. O perigo está em apresentar a guerra espiritual apenas como uma narrativa cultural ou social, esvaziando sua dimensão teológica. Para a Igreja, o mal não é metáfora, mas também não é explicação automática para todo sofrimento. Entre o negacionismo espiritual e o delírio religioso existe um caminho estreito: o caminho da verdade, da caridade e do discernimento, confiado por Cristo à Sua Igreja.

Mais do que nunca, essa reportagem confirma a urgência de uma formação sólida para fiéis, sacerdotes e agentes pastorais. Onde falta doutrina, o povo sofre. Onde a Igreja ensina com clareza, o mal é desmascarado e a pessoa humana é verdadeiramente cuidada — no corpo, na mente e na alma.

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