Autoridade ou vergonha? O risco de enfrentar o inimigo sem a vida em Deus

Recentemente, durante a celebração da Santa Missa em uma paróquia do Brasil, um episódio dramático revelou a todos o que a Igreja sempre ensinou sobre a batalha espiritual. Um espírito maligno manifestou-se em uma pessoa possessa, e um leigo, tomado pelo impulso, decidiu rezar por ela. Porém, em vez de libertação, o que ocorreu foi um escândalo: o inimigo expôs em voz alta os pecados ocultos daquele homem diante da assembleia. A cena, dolorosa e desconcertante, mostrou que não basta ter boa vontade para enfrentar as forças das trevas; é preciso estar revestido da autoridade que vem da santidade de vida e da comunhão com a Igreja. Quando falta essa base, o inimigo encontra brechas e não apenas resiste, mas também humilha, fazendo do pecador um sinal de derrota em público.

A Palavra de Deus já nos adverte sobre esse risco. Nos Atos dos Apóstolos, lemos o episódio dos sete filhos de Ceva, que tentaram expulsar espíritos malignos usando o nome de Jesus que Paulo pregava. Mas o espírito maligno respondeu: “Jesus eu conheço, e Paulo eu sei quem é. Mas vocês, quem são?” (At 19,15). Em seguida, os homens foram atacados e saíram feridos e despidos, envergonhados diante de todos. Essa passagem bíblica ilumina o que aconteceu no caso recente: não se pode brincar com o ministério da libertação, nem improvisar orações de autoridade quando a própria vida não está submissa a Cristo. O inimigo reconhece aqueles que vivem em estado de graça, mas expõe a fraqueza daqueles que não buscam uma vida santa.

A Igreja ensina que a autoridade para rezar sobre pessoas atormentadas pelo maligno não é fruto de coragem humana ou de fórmulas repetidas, mas da união íntima com Cristo. Quem não está em comunhão com os sacramentos, quem vive em pecado grave, abre portas para o inimigo e perde o direito espiritual de enfrentá-lo. Por isso, não é raro que o demônio exponha pecados ocultos para envergonhar e mostrar que aquela pessoa não tem autoridade diante dele. O que deveria ser um momento de libertação se transforma em ocasião de escândalo, porque o instrumento escolhido não estava preparado e nem foi confirmado pelo Senhor Jesus. Aqui vemos a seriedade daquilo que muitos encaram como simples oração espontânea: é necessário discernimento, santidade e obediência à Igreja.

A condição fundamental de quem deseja rezar sobre alguém em situação de perturbação espiritual é viver em estado de graça. Isso significa confissão frequente, vida de oração diária, Eucaristia como alimento central e uma caminhada constante de renúncia ao pecado, bem como a firme direção espiritual de um sacerdote. Sem isso, a oração não passa de palavras vazias. O Catecismo da Igreja Católica lembra que “a oração só é possível se estivermos humildes e pobres diante de Deus” (CIC 2559). E, no caso da oração de libertação, essa humildade é ainda mais radical: só quem se coloca sob a autoridade de Cristo pode invocar seu Nome contra as trevas. O ministro leigo que deseja servir nesse campo deve antes de tudo cuidar da própria alma, para não se tornar um risco para si mesmo e para os outros.

Esse episódio serve de alerta a todos nós. Não se trata de afastar os leigos da oração, mas de mostrar que o combate espiritual exige preparo, submissão e santidade. Quando alguém reza sem estar preparado, coloca-se em perigo e expõe os demais à ação do inimigo. O apóstolo Tiago nos recorda: “Sujeitai-vos, portanto, a Deus; resisti ao diabo e ele fugirá de vós” (Tg 4,7). Eis a chave: só quem está sujeito a Deus pode resistir. O caso da missa de domingo é um chamado à conversão, para que busquemos viver de modo santo, conscientes de que não são as palavras que expulsam o inimigo, mas a autoridade de Cristo agindo em quem é seu verdadeiro discípulo.

Uma resposta

  1. Achei esse texto ,uma excelente formação e grande orientação! Deus seja ! Adalberto Ribeiro.

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