Padre Gabriele Amorth insistia que a ação do demônio na vida das pessoas raramente começa de forma espetacular. Na imensa maioria dos casos, ela se inicia de modo discreto, silencioso e progressivo, por meio do que a tradição pastoral da Igreja chama de brechas espirituais. São pequenas concessões, escolhas aparentemente inofensivas, pecados tolerados ou práticas banalizadas que vão enfraquecendo a proteção espiritual da pessoa e abrindo espaço para a ação ordinária — e, em alguns casos, extraordinária — do inimigo.
Segundo o exorcista, um dos maiores erros do nosso tempo é imaginar que o demônio só age em contextos extremos. Amorth repetia que o mal se aproveita da negligência espiritual, não da força. Onde a vida sacramental é abandonada, onde a oração se torna rara e onde a conversão é adiada, forma-se um terreno fértil para a atuação do adversário. Não por poder próprio, mas porque o homem, livremente, se afasta da graça.
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A principal brecha: viver sem vida sacramental
Entre todas as brechas espirituais que Padre Amorth identificava, a mais grave era a ruptura com os sacramentos, sobretudo com a Confissão e a Eucaristia. Ele afirmava com clareza que o pecado mortal não confessado enfraquece profundamente a alma e retira dela a proteção espiritual que brota do estado de graça.
Para Amorth, não se trata de medo, mas de realidade espiritual: a graça santificante é uma fortaleza. Quando ela é abandonada, o inimigo encontra espaço para sugerir, confundir, oprimir e, em situações específicas, avançar de forma mais agressiva. É por isso que, em inúmeros atendimentos, o primeiro passo não era oração de libertação, mas reconciliação sacramental.
Brechas abertas pela curiosidade espiritual desordenada
Outro alerta constante do Padre Amorth dizia respeito à curiosidade pelo oculto. Ele advertia que muitas pessoas, mesmo se dizendo cristãs, se aproximam de horóscopos, tarot, espiritismo, magia, reiki, ocultismo e práticas esotéricas “por brincadeira” ou “por curiosidade”. Para a Igreja — e para Amorth — isso não é neutro.
Essas práticas, ainda que apresentadas como terapêuticas ou culturais, criam brechas espirituais reais, pois envolvem uma busca de poder, conhecimento ou cura fora da confiança em Deus. O sacerdote afirmava que muitos casos de opressão espiritual que acompanhou tiveram origem exatamente nesse tipo de envolvimento aparentemente inocente.
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A brecha da fé morna e do relativismo espiritual
Padre Amorth denunciava com vigor o cristianismo morno. A famosa frase — “Acredito em Deus, mas não pratico” — era, para ele, uma confissão involuntária de afastamento de Cristo. A fé reduzida a sentimento, sem compromisso, sem obediência ao Evangelho e sem vida de oração, deixa a alma vulnerável.
Essa brecha se amplia quando o relativismo moral entra em cena: quando o pecado deixa de ser visto como pecado, quando tudo se justifica, quando a conversão é adiada indefinidamente. Amorth alertava que o demônio age sobretudo na confusão da consciência, fazendo o mal parecer normal e a virtude parecer exagero.
Feridas não curadas e a brecha da falta de perdão
Um ponto sensível frequentemente lembrado por Amorth era o da falta de perdão. Mágoas profundas, ódios cultivados, ressentimentos antigos e traumas não entregues a Cristo podem se tornar brechas interiores graves.
O exorcista explicava que o inimigo se aproveita dessas feridas não curadas para alimentar desespero, raiva e fechamento espiritual. Por isso, insistia: processos de libertação duradouros passam pela decisão concreta de perdoar, mesmo quando emocionalmente isso parece impossível. A graça atua onde há abertura do coração.
A maior proteção: fechar as brechas permanecendo em Cristo
Apesar de falar com realismo sobre o mal, Padre Gabriele Amorth não tinha uma espiritualidade do medo. Ao contrário: sua mensagem central era de confiança na vitória de Cristo. Ele recordava constantemente que o demônio não é poderoso diante de uma alma em estado de graça.
Para fechar as brechas espirituais, ele indicava meios simples, profundamente católicos e acessíveis: vida sacramental frequente, oração diária, leitura da Palavra de Deus, devoção à Virgem Maria, uso dos sacramentais, direção espiritual e inserção na vida da Igreja.
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Seu ensinamento final permanece atual e urgente: não basta afastar-se do mal; é preciso permanecer em Cristo. Onde Jesus reina, nenhuma brecha permanece aberta.


