Poucos sacerdotes do século XX falaram com tanta clareza sobre a realidade espiritual quanto o célebre exorcista italiano Padre Gabriele Amorth. Seus escritos, entrevistas e testemunhos atravessaram fronteiras, impactaram gerações e formaram milhares de fiéis e ministros de libertação. Em sua última entrevista, concedida pouco antes de falecer, ele deixou aquilo que chamou de “testamento espiritual”: uma frase simples, direta e profundamente desconfortável para o mundo moderno — “Com Cristo ou com Satanás. Não existe meio termo.”
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A clareza de quem combateu o inimigo de perto
Em sua mensagem derradeira, Padre Amorth insistiu numa verdade que, hoje, muitos cristãos tentam suavizar: o mal existe, o demônio é real e a batalha espiritual é cotidiana. Ele afirmava:
“Deus quer levar todas as pessoas ao Paraíso. O diabo quer levá-las ao inferno.”
Não há zona neutra. A vida espiritual não permite tibieza, porque a própria Palavra de Deus adverte: “Porque és morno, estou para vomitar-te da minha boca” (Ap 3,16).
O sacerdote denunciava um dos enganos mais comuns entre os fiéis: o famoso “Eu acredito em Deus, mas não sou praticante”. Para ele, esse tipo de postura — tão difundida hoje — não é apenas ingenuidade: é território espiritual entregue ao inimigo.
Em sua entrevista, Amorth afirmou com força:
“Aqueles que dizem ‘acredito em Deus, mas não pratico’ estão com Satanás.”
Não se tratava de exagero retórico, mas de anos de experiência pastoral e combativa. Segundo ele, quem não se coloca conscientemente sob o senhorio de Cristo, coloca-se — mesmo sem perceber — sob outra influência.
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A responsabilidade dos pastores
Um trecho muitas vezes ignorado de suas últimas palavras foi sua crítica à pouca atenção que muitos pastores dão ao ministério do exorcismo. Ele lamentou que, em congressos episcopais, se perguntassem quantos bispos já exerceram diretamente seu poder de exorcizar — e quase nenhum levantava a mão.
Para o sacerdote, isso apenas demonstrava a urgência de recuperar a consciência de que o ministério da libertação não é opcional, mas parte da missão que Cristo confiou à Igreja: “Expulsarão demônios em meu nome” (Mc 16,17).
Padre Amorth não falava por teoria: foram dezenas de milhares de exorcismos ao longo de mais de trinta anos. Muitos exorcistas do mundo testemunham que ele foi um farol.
A última exortação: ficar com Cristo
No encerramento da entrevista, Padre Amorth deixou um chamado que resume toda sua vida espiritual:
“Permaneçam com Jesus. Não há outra possibilidade: quando não estamos com Jesus, estamos com Satanás.”
É uma frase dura — e é por isso mesmo que o mundo tenta rejeitá-la. Ela destrói a ilusão do cristianismo morno, do “crer sem obedecer”, do “ter fé sem conversão”.
No fundo, nos confronta com uma pergunta que somente cada pessoa pode responder no silêncio da própria consciência:
Quem reina no seu coração? Cristo ou outro senhor?
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A morte de um combatente
Padre Gabriele Amorth faleceu em 16 de setembro de 2016, aos 91 anos, após internação por problemas pulmonares. Partiu como viveu: combatendo pela salvação das almas. Sua voz permanece viva — não para produzir medo, mas para trazer luz.
Seu testamento espiritual é mais atual do que nunca, num tempo em que muitos querem uma fé adaptada ao mundo, mas não ao Evangelho.
A batalha espiritual continua. A escolha continua. E não existe meio termo.
