O jejum é uma das práticas espirituais mais poderosas e menos compreendidas da vida cristã. Longe de ser um costume antiquado ou algo restrito à Quaresma, o jejum é uma chave de intimidade com Deus, uma arma de combate espiritual e um caminho de purificação interior. Jesus não disse “se jejuardes”, mas “quando jejuardes” (Mt 6,16), revelando que essa prática é esperada de todo discípulo. No entanto, é preciso jejuar com sabedoria, discernimento e propósito. O jejum não é um simples ato de privação alimentar, mas uma entrega voluntária de algo legítimo — geralmente o alimento — em resposta a um desejo mais profundo de união com Deus. Quando bem praticado, ele produz frutos abundantes: libertação, cura interior, clareza espiritual, domínio das paixões e sensibilidade ao Espírito Santo. Mas como fazer jejum de forma correta, segura e, sobretudo, segundo os ensinamentos da Igreja?
Antes de mais nada, é importante compreender os fundamentos bíblicos e espirituais do jejum. Na Sagrada Escritura, vemos Moisés jejuando por quarenta dias no Sinai (Ex 34,28), Elias caminhando quarenta dias até o Horeb em jejum (1Rs 19,8), e Jesus Cristo se retirando ao deserto, onde jejuou também por quarenta dias (Mt 4,2). O jejum está intimamente ligado ao arrependimento, à intercessão e à preparação para uma missão. Em Tobias 12,8, o Arcanjo Rafael afirma: “É melhor a oração com jejum do que a esmola com tesouros”. E em Jonas 3,5-10, o povo de Nínive se converte por meio do jejum coletivo. A tradição da Igreja preservou esse valor, incorporando o jejum nas normas litúrgicas e penitenciais. Santo Agostinho dizia: “Jejua para que tua alma se alimente.” Portanto, o jejum é uma ponte entre o corpo e a alma — uma forma de submeter os instintos à vontade de Deus e abrir o coração à graça.
Existem diversas formas de jejum, e cada uma pode ser adaptada segundo as necessidades e possibilidades da pessoa. O mais comum é o jejum de alimentos sólidos, no qual a pessoa se abstém de uma ou mais refeições, substituindo-as por oração, silêncio e leitura espiritual. Outra forma é o jejum de pão e água, mais austero, mas muito poderoso, indicado para momentos de intensa intercessão. Também há o jejum parcial, onde se elimina algo específico da alimentação, como doces, carne ou refrigerantes. Além disso, existe o jejum espiritual, no qual o fiel se abstém de distrações, como televisão, redes sociais ou conversas inúteis, para focar no recolhimento interior. O importante é que o jejum não seja feito por vaidade, obrigação ou desejo de autopunição, mas como um ato de amor e obediência a Deus, com finalidade espiritual. Deve sempre ser acompanhado de oração, confissão frequente, leitura da Palavra e, se possível, da Santa Missa.
A Igreja Católica, com sabedoria pastoral, estabelece normas mínimas para o jejum, sobretudo na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa, dias em que os fiéis de 18 a 59 anos devem fazer apenas uma refeição completa, podendo consumir dois lanches leves. Além disso, todas as sextas-feiras do ano são dias de penitência, onde se recomenda a abstinência de carne ou outra mortificação voluntária. No entanto, o cristão maduro é chamado a ir além das obrigações. Os santos ensinavam a prática do jejum regular, especialmente às quartas e sextas-feiras, dias tradicionais de mortificação. É importante, contudo, agir com discernimento: pessoas com problemas de saúde, gestantes, idosos ou crianças não estão obrigadas e devem sempre consultar um sacerdote ou diretor espiritual antes de adotar práticas mais intensas. O zelo deve caminhar com a prudência.
Para o ministro de cura e libertação, o jejum é absolutamente indispensável. O próprio Jesus afirmou aos discípulos, diante de um caso de possessão: “Essa espécie de demônios só se pode expulsar com oração e jejum” (Mt 17,21). O jejum fortalece a autoridade espiritual, purifica as intenções do coração, esvazia o ego e enche a alma do Espírito Santo. Ele torna o ministro mais sensível à direção divina e mais apto a discernir os movimentos do inimigo. É recomendável que os servos desse ministério tenham uma rotina de jejum semanal, unida à intercessão por libertação, proteção e cura das pessoas que atendem. Também é fundamental jejuar antes de seminários, orações de libertação e momentos intensos de batalha espiritual. Não se trata de uma prática mágica, mas de uma disposição interior que abre espaço para o agir sobrenatural de Deus.
Por fim, é preciso lembrar que o jejum deve ser vivido em espírito de humildade, alegria e silêncio. Jesus nos ensina a não parecer abatidos nem nos vangloriar do sacrifício feito (Mt 6,16-18). O jejum não é uma bandeira para exibição espiritual, mas um segredo entre o filho e o Pai do céu. Quanto mais discreto for, mais eficaz se torna. Ao jejuar, não murmure, não julgue quem não jejua, e não transforme o sacrifício em peso. Ofereça o jejum como um dom, uma moeda espiritual que compra graças para você e para outros. Jejue por sua conversão, por sua família, pela Igreja, pelos sacerdotes, pela libertação dos oprimidos, pela paz no mundo. E, sobretudo, jejue com amor, porque o amor dá sentido ao sacrifício e transforma a renúncia em semente de salvação. Comece com o pouco. Seja fiel. E verá os frutos abundantes que o jejum pode gerar em sua vida espiritual.