O perigo da omissão dos pecados no sacramento da confissão

A Igreja nos ensina com clareza a importância do sacramento da confissão como caminho de cura e libertação, de misericórdia e reconciliação, do retorno à comunhão com Deus e com a Igreja. É a disposição para acolher o apelo do Senhor que diz: “Fazei penitência e crede no Evangelho” (Mc 1, 15). 

 

Reconciliação com Deus e com a Igreja

A Igreja nos ensina que o pecado é uma ofensa a Deus, destrói a amizade com Ele, e a penitência é justamente este momento do retorno, do caminho de volta, da reparação das ofensas, da disposição interior por reconciliar-se com sinceridade e amor com Deus e com a Igreja.

                              

“Assim como é variada e múltipla a ferida do pecado na vida dos indivíduos e da comunidade, assim também é diverso o remédio que nos é proporcionado pela penitência. Pois, os que pelo pecado grave se apartaram da comunhão com a caridade de Deus são reconduzidos pelo sacramento da Penitência à vida que haviam perdido” (Ritual da Penitência, p. 99).

 

No manual de espiritualidade do Padre Auguste Saudreau, na página 215 diz: “O sacramento de penitência é um dos meios mais poderosos de santificação de que nós devemos aproveitar”…, é o grande sinal da graça de Deus de transformação, pois é na misericórdia de Deus que o homem encontra o bálsamo para suavizar as feridas de sua alma, e assim, na amizade de Deus, santificar a sua vida inteira”. 

 

O sacramento da penitência e suas partes

O sacramento da penitência, assim como os demais sacramentos, têm suas partes importantes, as quais devem ser observadas para a validade do mesmo, são elas:

  1. Contrição: “Entre os atos do penitente ocupa em primeiro lugar a contrição, ou seja, a dor da alma e a detestação do pecado cometido, com o propósito de não mais pecar” (Ritual da Penitência, p. 98).
  2. Confissão: “Do Sacramento da Penitência faz parte a confissão das culpas que procedem do verdadeiro conhecimento de si mesmo diante de Deus, e da contrição dos pecados. Mas este exame de consciência e a acusação externa devem ser feitos à luz da misericórdia de Deus” (Ritual da Penitência, p. 99).
  3. Satisfação: “A verdadeira conversão se completa pela satisfação das culpas, pela mudança de vida e pela reparação do dano causado. As obras e a medida da satisfação devem adaptar-se a cada penitente para que cada um restaure a ordem que lesou e possa curar-se com o remédio adequado” (Ritual da Penitência, p. 99).  
  4. Absolvição: “Ao pecador que manifestou sua conversão ao ministro da Igreja pela confissão sacramental Deus concede o perdão mediante o sinal da absolvição, e assim se realiza o sacramento da Penitência” (Ritual da Penitência, p. 99). 

Assim se realiza a confissão em si, suas partes devem ser observadas e obedecidas, toda a função dos sacramentos tem seu objetivo para a salvação das almas. 

 

Omissão dos pecados

A confissão dos pecados é um ato de humildade, um ato de despojamento para recomeçar a vida de cristão, mas de um modo novo, coração resoluto, consciência de querer viver santamente o existir, lembrando que fomos comprados pelo sangue de Jesus, o Cordeiro sem mancha (Cf. 1 Pe 1, 18).

O demônio é o pai da mentira por excelência, e por meio da tentação, leva muitas almas ao pecado, claro, ele não obriga, mas, com sua força demoníaca, engana, mente, adocicando a situação que leva à desobediência contra Deus, e assim, perdendo aquelas almas criadas à imagem e semelhança (Cf. Gn 1, 26-27), deposita no coração do homem a falsa alegria, uma satisfação, um gozo momentâneo, o qual, desvia-o do caminho da eternidade.  

Por isso, muitas vezes, a grande mentira que o demônio coloca na mente do ser humano é que, ele não precisa se reconciliar por meio do sacramento da Penitência, fazendo até mesmo com que omita seus pecados mais graves, na desculpa de não ser necessário ou até mesmo por fraqueza, olhando mais para suas inclinações e as achando mais forte que a graça.

Omitir os pecados (no caso, os pecados mortais) na hora da confissão não somente pode invalidar o ato do sacramento, mas, fica-se à mercê do domínio de Satanás, pois ele bem sabe que Jesus veio nos libertar do seu poder por meio do seu sacrifício, nos perdoando os pecados, nos salvando pela justificação (Cf. Rm 5, 9). Ele sabe que, quando não saímos da situação de pecado, seu poder sobre a criatura é grande, as brechas se tornam um espaço para suas funções nefastas, o homem é levado não mais pela graça, e, sim, pelas suas influências. 

O Catecismo esclarece bem que:

 

“A declaração dos pecados ao sacerdote constitui uma parte essencial do sacramento da penitência: ‘Os penitentes devem, na confissão, enumerar todos os pecados mortais de que têm consciência depois de examinar-se seriamente, mesmo que esses pecados sejam muito secretos e tenham sido cometidos somente contra os dois últimos preceitos do decálogo, pois às vezes, esses pecados ferem gravemente a alma e são mais prejudiciais do que os outros que foram cometidos à vista e conhecimento de todos” (CIgc, n. 1456).

 

Por isso, não há porque ocultar os pecados na confissão, se está diante da pura misericórdia. Continua o mesmo parágrafo do Catecismo:

 

“Quando os cristãos se esforçam para confessar todos os pecados que lhes vêm à memória, não se pode duvidar que tenham o intuito de apresentá-los todos ao perdão da misericórdia divina. Os que agem de outra forma, tentando ocultar conscientemente alguns pecados, não colocam diante da bondade divina nada que ela possa perdoar por intermédio do sacerdote. Pois, ‘se o doente tem vergonha de mostrar sua ferida ao médico, a medicina não pode curar aquilo que ignora”. (CIgc, n. 1456). 

 

Estamos diante de um tribunal de cura, de amor, e por razão lógica de amor, não se pode esconder-se daquele que ama e quer curar as almas.    Justamente, o mal assombra aqueles que querem mudar de vida, colocando em seus corações a desconfiança de Deus, porém, não devemos temer a Satanás, ele é o pai da mentira, e a Verdade, o Verbo Encarnado quer-nos livres para seu louvor, sua glória. Confessemos os pecados, não omitamos, pois, Jesus veio nos libertar da morte eterna, do pecado, e do poder de Satanás. 

Assim, nos deixa claro São João em sua 1ª Carta:

 

 “Se, porém, andamos na luz como ele mesmo está na luz, temos comunhão recíproca uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado. Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se reconhecemos os nossos pecados, (Deus aí está) fiel e justo para nos perdoar os pecados e para nos purificar de toda iniquidade. Se pensamos não ter pecado, nós o declaramos mentiroso e a sua palavra não está em nós”. (1ª Jo 1, 7-10).  

 

Portanto, nos aproximemos do tribunal da misericórdia de coração contrito e humilde (Cf. Salmo 50), sabendo que seremos curados na raíz da alma, libertos das escravidões. Permitamos ao Senhor assumir seu lugar em nossas vidas, nos conduzindo um dia para a Vida Eterna, pois o seu perdão é fonte de vida. 

 

Bibliografia

Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002. Concílio Vaticano II.
Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Edição Típica Vaticana, Loyola, 2000.
Ritual da Penitência, promulgado em 11/08/1975.
Sandreau, Auguste. Manual de Espiritualidade. São Caetano do Sul-SP: 2ª ed. Santa Cruz-Editora e Livraria, 2023.
Corrigido pelo Pe. Dr. Micael de Moraes, SJS (Religioso e Sacerdote Salvista).  

 

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