Pe. Helmut Moll, sacerdote alemão, tratou sobre exorcismo na Alemanha e no mundo

“Só os ignorantes consideram as forças demoníacas como contos de fadas”

COLÔNIA  – O Padre Helmut Moll, é o representante da Arquidiocese de Colônia para beatificações e canonizações e especialista em exorcismo. Na entrevista ele fala sobre um falso entendimento e a base bíblica para os exorcismos.

 

Pergunta: Padre Moll, a maioria das pessoas associa a palavra exorcismo com imagens dos filmes de terror com rostos distorcidos dos “possuídos” e expulsões brutais. Quão perto esses filmes chegam da realidade?

 

Pe. Moll: Os filmes de terror geralmente refletem ideais subjetivos. Têm pouco a ver com a realidade do exorcismo como um serviço libertador. A sua forma litúrgica é muito mais sóbria e mais espiritual. Pois Jesus Cristo veio “para destruir as obras do diabo”, como diz a Primeira Carta de São João.

 

Pergunta: Você falou recentemente em Roma, no curso básico sobre exorcismos, sobre os critérios da Igreja para determinar a possessão demoníaca. Quais são eles?

 

Pe. Moll: O Rituale Romanum de 1999 confirma os critérios comprovados na prática há séculos: pessoas possuídas pelo demônio podem, por exemplo, falar em uma língua estrangeira – da qual o possuído não tenha conhecimento – ou compreendê-las. Podem também revelar acontecimentos distantes e misteriosos, como o homem na sinagoga de Cafarnaum, no início do Evangelho de Marcos. Além disso, podem desenvolver poderes que vão além de sua natureza, como o homem possuído de Gerasa ( Mc 5,1-20 ) ou Gadara ( Mateus 8,28-34 ) foi capaz de fazer.

 

O quarto critério supera os três primeiros: tais pessoas rejeitam veementemente, sobretudo, Deus Todo-Poderoso, o nome de Jesus, a Virgem Maria, os santos e a Igreja. O ditado é verdadeiro: o diabo não teme nada mais do que água benta.

 

Pergunta: Como é possível distinguir estes fenômenos da doença mental? Falar um idioma diferente ou ter uma reação alérgica a coisas religiosas também pode acontecer com as pessoas que sofrem de algum tipo de psicopatologia…

 

Pe. Moll: O dom de discernimento dos espíritos é uma das coisas mais importantes nesta área. O Papa João Paulo II recomendou que pessoas com experiência espiritual e formação em medicina e psiquiatria fossem colocadas ao lado do sacerdote. A doença mental e a obsessão devem ser claramente separadas. O médico não é padre, mas o padre também não é médico.

 

Pergunta: Neste país [Alemanha], muitas pessoas geralmente consideram as forças demoníacas como fruto da sua imaginação. Por quê?

 

Pe. Moll: Somente pessoas ignorantes ou que pensam superficialmente consideram as forças demoníacas como contos de fadas ou fantasias. Os abismos do homem moderno são óbvios nas condições do presente. Por que um piloto mergulhou, consciente e intencionalmente, a si mesmo e a seus passageiros para a morte nos Alpes, há um ano? Que forças, por exemplo, levaram Adolf Hitler, Josef Stalin ou Pol Pot a assassinar violentamente milhões de pessoas?

 

Pergunta: Por que o exorcismo tem tão má reputação na Alemanha?

 

Pe. Moll: A morte prematura da estudante de Anneliese Michel, de Klingenberg , em 1976, causou trauma na Alemanha católica. Até hoje parece não ter sido superado. A teologia e o magistério da Igreja foram e são, portanto, chamados a lançar novamente a atenção para o fato de que a realidade demoníaca não só é possível, mas também é um fato.

 

Pergunta: Das 27 dioceses alemãs, apenas sete têm um exorcista…

 

Pe. Moll: Nos países de língua alemã, os bispos diocesanos nomearam muito poucos sacerdotes adequados para realizar este serviço delicado e muitas vezes incompreendido. Os exorcistas trabalham secretamente, mas de forma eficaz e libertadora. Tais sacerdotes devem distinguir-se pela piedade, pelo conhecimento, pela prudência e por um estilo de vida impecável, como estipula o direito canônico.

Os exorcismos são conhecidos a partir de filmes espetaculares como “O Exorcista”. Mas o assunto não é realmente algo para se brincar. Um colégio pontifício de Roma fornece formações com um “Curso Básico de Exorcismo”.

Pergunta: Como é em outros países?

 

Pe. Moll: Outros países e continentes baseiam-se em diferentes requisitos religiosos e culturais. É por isso que o exorcismo às vezes é tratado de forma diferente. Segundo as minhas informações, existem mais de 200 exorcistas trabalhando na Itália e que não têm medo de aparecer publicamente como tal. Existem mais de 300 exorcistas trabalhando na Polônia, de forma integral ou parcial. Ambos os Papas Bento XVI e Francisco reconheceram expressamente o serviço dos exorcistas em mais de uma ocasião.

 

Pergunta: Cerca de 230 especialistas reuniram-se em Roma. Quais são os problemas atuais que afetam os Exorcistas em 2016?

 

Pe. Moll: O curso semanal deste ano na universidade romana “Regina Apostolorum” tratou de aspectos jurídicos, psicológicos e criminológicos que são importantes nos exorcismos. Os palestrantes falaram sobre os fenômenos culturais e religiosos que crescem atualmente em cada país. Além dos cardeais da Cúria e de outros especialistas da Igreja, estava presente também um representante de outra religião mundial: o Rabino Riccardo Di Segni apresentou o tema “O Diabo e o Exorcismo no Judaísmo”.

 

Pergunta: Recentemente tem havido relatos crescentes de exorcismos brutais no meio protestante. O que dizem os especialistas em exorcismo católico sobre tais práticas?

 

Moll: Os ambientes evangélicos protestantes devem ser visto de forma diferenciada. Generalizações precipitadas são proibidas. O que me impressiona é a crescente consciência das práticas esotéricas e xamânicas que são incompatíveis com o Evangelho. O ministério de cura e libertação está e continua ligado à pessoa de Jesus Cristo, que diz : “Mas se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, então o reino de Deus já chegou a vós”.

Por Agathe Lukassek 

Tradução livre do artigo Alemão KÖLNER PRÄLAT HELMUT MOLL ÜBER EXORZISMUS IN DEUTSCHLAND UND WELTWEIT – “Nur Unwissende halten dämonische Kräfte für Märchen”

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