O jejum, ao longo da história da salvação, sempre foi uma prática espiritual profundamente enraizada na experiência do povo de Deus. No Antigo Testamento, encontramos reis, profetas e o povo de Israel recorrendo ao jejum em momentos de arrependimento, clamor e busca pela intervenção divina (cf. Joel 2,12-13). No Novo Testamento, o próprio Jesus, antes de iniciar seu ministério público, passou quarenta dias no deserto em jejum e oração (cf. Mt 4,1-2), dando-nos o exemplo mais elevado da importância dessa prática. Para o ministro de cura e libertação, o jejum não é um acessório espiritual, mas um elemento indispensável, que purifica, fortalece e capacita o coração para as batalhas espirituais. Ele afina a sensibilidade à voz de Deus, esvazia o ego e rompe cadeias ocultas que impedem o agir sobrenatural da graça no ministério.
A Igreja Católica, em sua sabedoria, sempre valorizou o jejum como meio eficaz de penitência e de crescimento espiritual. O Catecismo da Igreja Católica ensina que o jejum é uma expressão concreta da mortificação, um ato que dispõe a alma à oração e prepara para a recepção dos sacramentos (cf. CIC 1434). Além disso, o jejum tem um papel especial no combate espiritual, como ensina o Senhor aos seus discípulos ao dizer que “certas espécies de demônios só podem ser expulsas com oração e jejum” (cf. Mc 9,29). Nesse sentido, o ministro de cura e libertação que deseja ver frutos verdadeiros e eficazes em sua missão precisa abraçar o jejum como parte regular de sua vida espiritual. Não se trata de buscar méritos ou fazer barganhas com Deus, mas de dispor-se, com humildade, a cooperar mais profundamente com a graça divina.
Existem várias formas de jejum praticadas na tradição católica. O mais comum é o jejum de alimentos, no qual a pessoa se abstém de refeições completas ou reduz significativamente sua alimentação durante o dia, oferecendo esse sacrifício a Deus. A Igreja recomenda, por exemplo, o jejum a pão e água, em certos dias específicos, como forma de penitência e intercessão. Outra modalidade é o jejum parcial, onde se escolhe um alimento, bebida ou hábito para ser renunciado por um tempo. Há também o jejum espiritual, em que se renuncia a entretenimentos ou práticas que dispersam o espírito, como televisão, redes sociais, música secular, e se substitui por momentos de adoração, leitura da Palavra e obras de misericórdia. Independentemente da forma, o que importa é a disposição interior: um coração arrependido, sedento por Deus e desejoso de ser canal limpo para a ação do Espírito Santo.
Para o ministro de cura e libertação, o jejum deve ser realizado com discernimento, direção espiritual e sempre em comunhão com a Igreja. É importante que o ministro não faça do jejum um peso, nem um instrumento de vaidade espiritual, mas sim uma resposta amorosa à necessidade de purificação interior. Iniciar com jejum leve, como evitar doces ou uma refeição específica por semana, pode ser um bom começo. À medida que se cresce na vida espiritual, é possível adotar práticas mais exigentes, sempre com responsabilidade e equilíbrio. Vale recordar que o jejum não substitui os sacramentos nem a caridade, mas os potencializa. Um coração que jejua mas não ama, está apenas passando fome. Mas um coração que jejua e ama, se transforma em um campo fértil para os milagres de Deus.
Biblicamente, o jejum aparece como um instrumento de libertação e consagração. Moisés jejuou quarenta dias antes de receber as tábuas da Lei (cf. Ex 34,28), Ester convocou o povo a jejuar para interceder pela salvação dos judeus (cf. Est 4,16), e o profeta Daniel recorreu ao jejum para discernir os tempos e receber visões celestes (cf. Dn 9,3). No Novo Testamento, além do jejum de Jesus, vemos que os apóstolos jejuavam antes de tomar decisões importantes (cf. At 13,2-3). Isso demonstra que o jejum é mais do que uma prática de penitência; ele abre os céus, desata nós invisíveis e traz clareza espiritual. O ministro de libertação precisa desse olhar bíblico sobre o jejum: não como um ritual árido, mas como uma chave de autoridade espiritual, capaz de transformar o ambiente e preparar o caminho para a manifestação do Reino de Deus.
Por fim, é necessário lembrar que o jejum, por si só, não realiza milagres. Ele é um meio, não um fim. O poder está em Deus, e o jejum apenas nos torna mais dóceis a esse poder. Ao jejuar, o ministro não manipula o sobrenatural, mas se submete à vontade de Deus com mais liberdade interior. Em tempos onde muitos querem resultados sem sacrifício, o verdadeiro ministro de cura e libertação é chamado a ser um sinal de contradição: alguém que se entrega ao jejum, à oração, à vida sacramental e à caridade, para que, esvaziado de si, possa ser plenamente cheio do Espírito Santo. O jejum é, portanto, um altar invisível, onde o ministro se oferece a Deus como sacrifício vivo, santo e agradável (cf. Rm 12,1), a fim de que o mundo conheça, pela libertação dos oprimidos, o rosto misericordioso do Senhor.