Em maio de 1907, na missão de São Miguel, dirigida por monges trapistas no Vicariato de Natal, África do Sul, dois casos de suposta possessão demoníaca chamaram a atenção da Igreja local. O bispo Monsenhor Delalle, inicialmente cético, foi solicitado a intervir após repetidos relatos de padres e religiosas sobre comportamentos inexplicáveis em duas jovens da escola missionária: Germana e Mônica.
Fenômenos relatados
Segundo testemunhos, as adolescentes apresentavam sinais que iam além de qualquer explicação natural:
- Força física desproporcional, levantando pesos que dois homens não conseguiam erguer.
- Compreensão e fala em latim, língua desconhecida para elas.
- Revelação de pecados secretos de colegas da escola.
- Combustão espontânea de roupas e objetos próximos.
- Reações violentas diante de símbolos religiosos.
Esses episódios levaram as religiosas a pedir ajuda urgente ao bispo, que decidiu iniciar o ritual de exorcismo.
O ritual de exorcismo
Na capela da missão, o bispo iniciou o rito acompanhado de quatro padres e três religiosas. Germana reagia com gritos e convulsões:
- Ao ser aspergida com água comum, ria; mas ao receber água benta, gritava de dor.
- Resistia às invocações em latim, respondendo em zulu ou latim, demonstrando conhecimento bíblico incomum.
- Reconheceu relíquias da Cruz sem vê-las, dizendo que a esmagavam.
- Ao ser pressionada, revelou o nome “Dioar” e escreveu com o dedo o nome de seu “mestre”: Lúcifer.
Em determinado momento, Germana afirmou que os dedos do sacerdote a silenciavam porque eram “consagrados”. O bispo insistiu nas orações, e a jovem alternava entre fúria e desmaios.
Libertação
Após dois dias de intensas orações, Germana caiu em convulsão, seu rosto inchou e lágrimas escorreram. Ao receber o sinal da cruz, recuperou-se instantaneamente. Pouco depois, permaneceu imóvel como morta, até abrir os olhos e agradecer a Deus. O bispo declarou que “Dioar” havia partido e que a jovem estava liberta.
Reflexão da Igreja
O padre J. Godfrey Raupert, que registrou o caso em seu livro Christ and the Powers of Darkness (1914), destacou que sinais como conhecimento de línguas desconhecidas, revelação de fatos ocultos, força descomunal e ódio ao sagrado são tradicionalmente reconhecidos pela Igreja como indícios de possessão. O episódio de Germana tornou-se um dos relatos mais marcantes de exorcismo no início do século XX.
O exorcismo de 1907 na missão de São Miguel permanece como testemunho histórico da prática da Igreja diante de fenômenos espirituais extraordinários. Para os presentes, o caso reforçou a convicção de que, diante da ação do maligno, a oração e os sacramentos são instrumentos de libertação e vitória da fé.


