O exorcismo pode ser realizado à distância?

O ministério de exorcizar os possessos é peculiar e deve sempre ser tratado com a devida discrição, evitando que toda e qualquer publicidade exagerada ou que não tenha o objetivo claro da evangelização adequada seja utilizada.

Para celebrar o exorcismo, o sacerdote autorizado deve seguir regras específicas, presentes no Ritual Romano dos Exorcismos. Dentre elas, está o local onde deve acontecer a celebraçãõ e a forma de conduzí-la.

Ensina o Ritual:

“O exorcismo, se for possível, celebre-se num oratório ou noutro lugar apropriado, separado da multidão, onde esteja patente a imagem de Jesus crucificado. Também deve haver nesse lugar uma imagem da Bem-aventurada Virgem Maria.” [1]

Contudo, existem testemunhos de casos em que exorcistas celebram exorcismos por telefone ou através de videoconferência on line. É o caso do Cardeal albanês Ernest Simoni, que em um curso para exorcistas em Roma (2018), afirmou:

“Todo dia pratico quatro ou cinco exorcismos via celular”.

A declaração surpreendeu a todos, inclusive exorcistas mais experientes e aqueles que nem o são. Muitas perguntas surgiram: isso pode ser feito? Ou são apenas orações pedindo a Deus libertação ou proteção do Maligno? É eficaz?

No Chile, em março de 2019, um exorcista chileno deu o seu testemunho de como liberta possuídos rezando o ritual de 1614 em latim através de videoconferências, há milhares de quilômetros. Mas não sem ajuda: para rezar dessa maneira, o possuído deve ter auxílio de outras pessoas e, inclusive, um sacerdote no local em que está. Ao menos é assim que faz um exorcista chileno, que mantém o anonimato, a fim de não sofrer retaliações. O texto abaixo está traduzido do espanhol e foi publicado no Portal chileno Porta Luz, em 15 de março de 2019:

“Relato inédito de exorcismos realizados há ‘milhares de quilômetros de distância’ em um jovem possuído por Satanás”

“Nem o padre, nem o bispo de sua diocese, nem o pastor evangélico, nem o psicólogo lhe haviam estendido concretamente a mão. Era um jovem abandonado à sua sorte…”

Se a Igreja reconhece como válidas algumas aparições da Virgem, como reais os milagres mediados por aqueles que depois são declarados santos e, portanto, também uma série de outras intervenções extraordinárias de Deus, por que não seria possível Deus libertar um possuído pelo, quando um padre idôneo implora por essa libertação, através de orações apropriadas e/ou do rito de exorcismo… realizado remotamente e por algum meio tecnológico, atendendo a situação do possuído?

” Nada é impossível para Deus …” disse o anjo na “Anunciação” à Virgem Maria, conforme o texto do Evangelho de Lucas no capítulo 1, versículo 37.  Mesmo assim, não deixou de surpreender a muitos o testemunho  dado pelo Cardeal Ernest Simoni, quando durante uma conferência de formação sobre exorcismo em Roma (2018) declarou: “Todo dia pratico quatro ou cinco exorcismos pelo celular”.

Mas o Cardeal Simoni não é o único. Portaluz recebeu o testemunho recente de um padre exorcista que – encorajado depois de ouvir Simoni em Roma – também praticou sessões de exorcismo através de videoconferências de WhatsApp. Ele tomou a decisão, afirma, levando em conta o sofrimento de uma pessoa que não foi ouvida nem pelo pároco nem pelo bispo de sua diocese. Este é o relato dos acontecimentos que ele nos enviou:

A misericórdia de Deus

“…A contagem regressiva começa para o Pai das Mentiras. Confiando em Deus, sei que um ou muitos demônios serão expulsos deste homem.
Quem é?
(Silêncio).
Quem é?
(Silêncio).

A equipe de oração permaneceu firme em súplicas a Deus, pedindo a libertação desse jovem que estava a milhares de quilômetros de distância de nós.

De minha parte e ocupando o ritual de 1614, coloquei toda a ênfase espiritual que foi possível ao formular as questões do rito, pois nessa oportunidade não havia absolutamente nenhum sinal que me indicasse se ele ou os demônios continuavam possuindo-o. Cheguei até a pensar que o jovem já havia se libertado com o último exorcismo que havia realizado dias antes.

Na semana seguinte, entramos em contato novamente, mas desta vez os dois celulares começaram a falhar. O sinal foi restabelecido e o exorcismo começou. Achei que havia um sinal ruim na capela onde estava o endemoninhado, mas não demorei muito para perceber que, quando nomeada a Santíssima Virgem, perdemos completamente o sinal da videoconferência. Por exemplo, bastou iniciar a oração da ‘Salve Rainha’ para que a imagem em ambos os celulares congelasse, tudo em silêncio. Mas não havia necessidade de se assustar com isso porque as artimanhas do diabo que tentam colocar tudo de ‘pernas para o alto’ também ocorrem quando eu faço exorcismos com os possessos presentes no lugar em que estou.

      … Neste ponto da história acho importante contextualizar como é que, por caridade, fui obrigado a concordar em realizar esse exorcismo à distância. A primeira coisa a dizer é que – como muitos dos presentes – fiquei surpreso com o testemunho de Ernest Simoni, um cardeal albanês de 90 anos, quando abriu o curso de exorcismo e oração de libertação em Roma em 2018, testemunhando que realizou os ritos do seu celular. Seu ensinamento sincero – que foi divulgado em todo o mundo – me motivou a continuar ajudando aqueles que tanto sofrem com a incompreensão de suas famílias e todos aqueles que não acreditam na ação extraordinária do Maligno.

Este jovem possuído, cujo exorcismo à distância conto, pediu ao seu padre que o ajudasse a libertar-se do mal que o atormentava. O padre o encaminhou para um psicólogo. A psicóloga recomendou o Reiki. Com o Reiki, ele obviamente piorou ainda mais sua situação. Então, ele procurou um psiquiatra que aplicou todos os seus conhecimentos médicos e tratamentos farmacológicos. Mas a situação continuou a aumentar em agressividade. Ele já havia tentado tirar a própria vida duas vezes. Ele continuou a sofrer de pensamentos perturbadores: cometer suicídio, assassinar sua esposa, enforcar seus filhos pequenos e assim por diante.
Desesperada, a esposa tomou a decisão de levá-lo a um pastor evangélico. Infelizmente, este nada pôde fazer, o que causou no jovem maior medo e visão fatalista de sua vida. Foi então que pediram ajuda ao bispo de sua diocese. Este bispo recomendou que fossem a um psicólogo. Nem o padre, nem o bispo de sua diocese, nem o pastor evangélico, nem o psicólogo lhe deram uma mão concreta. Ele era um jovem abandonado à sua sorte.
O psiquiatra, diante da situação, tomou como assunto pessoal e chamou um colega médico de outro país que havia participado de um curso sobre exorcismos ministrado em Roma, para explicar o caso. Contou-lhe que o jovem vinha sofrendo há alguns anos com acontecimentos estranhos, entre os quais: vozes que lhe sugeriam coisas horríveis, aversão a tudo o que era sagrado, invasões repugnantes de insetos, vermes e moscas em alguns dias especiais da semana, sentindo que um ser se movia dentro de seu corpo – inclusive visto pelo paciente a olho nu – através de seus braços e pernas. E como estas, muitas outras coisas.

O colega, então, sugeriu que ele falasse com um padre que conhecia porque – embora estivesse a milhares de quilômetros de distância – “ele sabia dessas questões”. Foi assim que me chamaram e, como sempre faço, pedi o laudo psiquiátrico e me enviaram um bem exaustivo. Ao final do relato, o psiquiatra destacou ter usado todos os meios possíveis para obter uma melhora, por isso sugeriu ao paciente – assinalou – a possibilidade de se aproximar de um especialista espiritual que considerasse conveniente para tentar encontrar uma saída para sua doença. Então o psiquiatra, conversando comigo, me disse que se o Rito de exorcizar mostrasse resultados positivos no paciente, então muitos de seus paradigmas médicos cairiam vertiginosamente.
E começou o primeiro exorcismo, todos em oração e bem preparados de antemão. Através da videoconferência ativada, podia ver que os movimentos do possuído estavam descontrolados desde o primeiro momento. Pelo menos três homens o prenderam na capela onde ele estava a milhares de quilômetros de onde eu estava. Sua força era colossal. O padre que acompanhava o possesso, vestido de alva e estola púrpura, seguiu as instruções que lhe dei. Diante da água benta, da cruz e dos sinais religiosos, o demônio reagia através do corpo do possesso em várias manifestações de rejeição violenta – vômitos, rosnados, blasfêmias, até mesmo perda de consciência e outras – como indica a Sagrada Escritura… leão rugindo encurralado.
“Leve o celular para ele”, pedi ao padre que acompanhava o potencialmente possuído e então repreendi o demônio:

“Quem é você?” … não houve resposta dessa vez. Mas o diabo seria exposto em exorcismos subsequentes.

No oitavo exorcismo à distância que o possesso recebia, o Maligno permaneceu em silêncio. Chegamos até a pensar que a graça da expulsão já poderia ter ocorrido. Tampouco o possesso apresentou manifestações da presença maligna como em encontros passados… Até que pela quinta vez, lhe perguntei “quem é você?” , uma risada sarcástica foi ouvida e ele gritou: “Eu sou Satanás!” 
– Quando você vai sair?, quando você vai sair dele?, eu disse.
– Nunca!, ele respondeu zombeteiro.
– Quando você vai sair dele?, insisti.
Até ele morrer, ele já é nosso! , escutei-o dizer.
Naquele dia continuamos com as orações e várias manifestações começaram no homem possuído enquanto ele se contorcia no chão…
O jovem seguiu diligentemente todas as instruções que lhe demos: assistir regularmente à missa, confissão regular, vida de oração, distanciar-se totalmente das práticas ocultas e de tudo relacionado à Nova Era. Você sabe que o processo de libertação pode levar meses ou anos. Ele entende que seu compromisso com a fé e sua entrega a Deus confiando na mediação da Santíssima Virgem Maria (rezar o terço é uma arma poderosa) é necessário para fechar todas as portas que um dia poderiam ter sido abertas ao diabo.
Para quem não conhece a Deus, o que é narrado pode parecer absurdo. Mas nada, nem mesmo a milhares de quilômetros de distância, impede a intervenção do Senhor, segundo sua vontade divina.
Também poderia haver a tentação de mergulhar naquele clima de desesperança diante da incredulidade e pouca misericórdia daqueles que não quiseram oferecer ajuda a este jovem, mas não. Muito mais importante e fundamental é ficar hoje com a cena maravilhosa do Senhor, que envia seus discípulos para pregar o Evangelho, curar os enfermos e expulsar demônios… protegendo e dando sinais de sua salvação às crianças que mais precisam Dele!
A última vez que falei com o possesso antes de escrever este registro dos acontecimentos para Portaluz, ele me disse como estava infinitamente grato a Deus e à Igreja, pois sua recuperação era evidente. Ele agradece a Deus, diz ele, pela “paciência e generosidade” dos dois padres que acreditaram e o ajudaram, a sabedoria generosa do psiquiatra que pessoalmente procurou ajuda para ele, a fé dos grupos de oração que suplicam a Deus por ele . . , e a bondade de meu bispo que me autorizou como exorcista neste caso e para realizar os ritos à distância”.”

Referências bibliográficas

[1] Ritual Romano dos Exorcismos, Preliminares, Cap. V. p. 19. Edição da Conferência Episcopal Portuguesa.

Link do texto em espanhol.

 

 

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