A palavra “Exorcismo” foi banida pela Conferência Episcopal Alemã por causa da morte polêmica de Annelise Michel

O caso Klingenberg, como ficou conhecido o julgamento dos sacerdotes exorcistas de Anneliese Michel e seus pais, foi o responsável por fazer com que a Conferência Episcopal Alemã — sob forte pressão popular — instituísse uma comissão formada por teólogos, psicólogos e médicos para analisar as implicações do Exorcismo na Alemanha. Por recomendação dessa Comissão, em 1999 a palavra “Exorcismo” foi substituída na Igreja alemã pela expressão “Liturgia para a Libertação do Mal” e gerou um documento de 90 páginas que nunca foi obedecido pelo clero fiel à Santa Igreja. Anneliese não era epilética e nem tinha alguma doença mental. Seu problema chamava-se possessão diabólica e por mais que a maioria das pessoas não queira compreender o que se passava com a jovem, os exorcistas são unânimes em afirmar que sua condição era espiritual.

Os sacerdotes exorcistas e seus pais foram ao banco dos réus por supostamente terem sido negligentes com a jovem, enquanto a submeteram a 67 sessões de exorcismo maior culminando com a sua morte, mas os sinais da sua possessão eram evidentes.

O Padre Adolf Rodewyk, à época residente em Frankfurt, era o maior especialista alemão em possessão diabólica, tendo publicado vários livros sobre o assunto. Em Trier, mais antiga cidade alemã, tratou de uma enfermeira que sofria de possessão diabólica, no que se transformou no célebre caso Magda.

Após tomar ciência do caso de Anneliese, o Padre Rodewyk pediu um relatório detalhado sobre esse e, após analisá-lo, concluiu haver indícios de possessão diabólica. Por estar com a idade avançada na época — contava já com 79 anos —, explicou que não poderia envolver-se no caso.

A história que se segue já é bem conhecida por todos: após muito sofrer e procurar, Anneliese acabou por ser exorcizada em sua própria diocese, com autorização dada pelo bispo a dois sacerdotes, no período entre 1975 e 1976.

No ano de 2014, a cientista Petra Ney-Hellmuth publicou o livro “O Caso de Anneliese Michel: Igreja, Justiça e Meios de comunicação”. A obra trata da sua tese de doutorado sobre o assunto e foi a primeira vez que uma cientista escreveu sobre isso.

As conclusões não são animadoras, haja vista que Petra acredita que o caso de Anneliese fora “…instrumentalizado como argumento contra as novidades introduzidas pelo Concílio Vaticano II.” Diz a cientista:

 

“Recontar o sofrimento e a morte de Anneliese Michel contribui para manter a crença na existência da possessão e justificar os atuais exorcismos que estão sendo realizados, apesar da imagem da igreja ter sido prejudicada pelo ‘caso Anneliese Michel’”

 

A cientista também relatou que imagens do diabo supostamente falando de uma menina infeliz foram espalhadas nos pátios das escolas por algum tempo como um aviso aos jovens, todos com o apoio ativo da extremamente conservadora Irmandade de São Pio. A estudiosa também descobriu que críticos da Igreja Católica e católicos liberais acreditam que a Igreja não fez o suficiente para esclarecer seu papel no caso.

A cada ano que passa, percebemos que ainda não se deu o devido valor ao sofrimento de Anneliese.

Na Alemanha, a Igreja procura evitar o assunto e na mídia, quando o caso é lembrado, imediatamente uma dúzia de especialistas médicos são postos a falar e afirmar categoricamente que Anneliese era epilética ou doente mental.

 

Referências

Egzorcizam i Crkva (texto em croata, traduzido livremente).
Anneliese Michel: a verdadeira história de um caso de possessão demoníaca, Ed. Cristo Rei.

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