A pastoral da misericórdia ou serviço de escuta diocesano

O serviço pastoral desempenhado pelo sacerdote exorcista diocesano é um serviço especializado. Ninguém vai ao médico especialista, sem antes passar pelo clínico geral. Seria pular uma etapa. Do mesmo modo funciona com o exorcista diocesano: para chegar até ele é necessário ser encaminhado, ter feito uma espécie de “consulta prévia” com o pároco local, que fará um primeiro discernimento. Esse atendimento é importante para dar um primeiro direcionamento: como está a vida espiritual, a frequência aos sacramentos, a vida de oração etc.

Um erro muito comum é encaminhar a pessoa ao exorcista sem um atendimento prévio. Ao sacerdote exorcista não devem ser encaminhados casos em que não foi realizado o atendimento inicial. Fazer isso pode ocupar o tempo de uma pessoa que esteja, de fato, sofrendo com uma possessão diabólica e necessite de exorcismo maior.

No Vaticano, sede da Santa Igreja Universal, os atendimentos para as pessoas que acreditam necessitar do exorcismo é relativamente organizado. Na Itália, a maioria das dioceses possui exorcista e em muitas delas, há um serviço — mais ou menos organizado — para auxiliá-lo no discernimento dos casos e que acaba sendo supervisionado por este.

O Padre Francesco Bamonte, ICMS[1], explica como os casos chegam até ele:

“No meu ministério pastoral de exorcista, quando recebo pela primeira vez uma pessoa, passada através do “Centro de Escuta”, faço referência, para um posterior discernimento, a diversos elementos. Acima de tudo, tenho presente tudo o que me foi referido pelos colaboradores do “Centro de Escuta”, mas baseio-me também no diálogo pessoal com o sujeito e no que se verifica nos momentos de oração, feitos junto com ele e com a equipe que me auxilia. Preliminarmente, eu e os meus colaboradores, o mais possível, procuramos sempre desdramatizar os eventos e tranquilizar as pessoas, empenhando-nos em criar em torno delas um clima de grande serenidade e distensão, às vezes dando também algum toque brincalhão. Este modo de proceder é também muito útil para evitar involuntárias sugestões nas pessoas que se dirigem a mim. Depois disso, simplesmente convido aquela pessoa e os seus acompanhantes a orar junto comigo para pedir ao Senhor que nos ajude a compreender qual é a verdadeira causa do mal que a oprime e a faz sofrer e para assim compreender do que se tem verdadeiramente necessidade.”[2]

O Padre Bamonte trabalha integrado a um “Centro de Escuta”. Esses serviços pastorais normalmente são constituídos de leigos maduros na fé, psicólogos e até médicos psiquiatras, para ajudar da maneira correta uma pessoa que procura a Santa Igreja em busca de ajuda.

Sabemos, pela prática do ministério, que de cada 100 pessoas que procuram o exorcismo, apenas 4 delas realmente dele necessitam. Logo, pode surgir um questionamento: “o que fazer com as outras 96 pessoas?”

Tanto para os que necessitam de exorcismo como para aqueles que não necessitam, o serviço de escuta ou a pastoral da misericórdia ou da consolação é um serviço pastoral muito necessário para colaborar com a missão do exorcista na diocese.

 

Como organizar o serviço diocesano do Centro de Escuta ou da Pastoral da Misericórdia?

 

A organização desse serviço na diocese deve, preferencialmente, ser supervisionada pelo exorcista diocesano oficial. Deve possuir um coordenador, que organizará a pastoral e dará seguimento aos direcionamentos de atendimentos. Deve haver leigos maduros na fé, que estão com suas vidas sacramentais em ordem, e possuem o dom da escuta e do aconselhamento. Se forem profissionais, deve-se dar preferência aos psicólogos e, se for possível, que haja um contato direto com um médico psiquiatra. Quanto ao médico, não existe a obrigatoriedade que seja católico, mas se o for, será de grande valia!

Deve-se estabelecer de que forma na diocese esse serviço será acessado: haverá um número telefônico? Atendimento via site, chat ao vivo?

O bispo diocesano, na medida do possível, deve fazer-se presente dando sua benção e conferindo as nomeações necessárias aos membros dessa pastoral ou serviço diocesano.

O ideal é que as pessoas sejam encaminhadas através dos seus párocos, mas a pastoral não deve restringir o seu campo de atuação somente para esses casos, estando aberta para receber todas as pessoas que a ela recorrerem.

Um dia ou dias da semana precisam ser definidos para funcionamento e é necessário que seja ou sejam divulgados na diocese, a fim de que as pessoas saibam como acessar o serviço diocesano da pastoral.

Os membros, dentro das possibilidades, devem cuidar de sua saúde mental, evitando excessos e atendendo as pessoas dentro dos seus limites. Se a capacidade de atendimento for atingida, deve-se evitar receber novos casos até dar vazão aos atuais, mesmo que se forme uma lista de espera.

 

O que os membros fazem ao receber as pessoas?

 

Sob a orientação do exorcista diocesano, deve haver um questionário que deve ser respondido pela pessoa que recorre ao serviço diocesano de escuta. O questionário, na medida do possível, deve ser preenchido pela própria pessoa, deixando-a livre para fazê-lo, e somente se for necessário, o preenchimento deve ser realizado pelo membro da pastoral, questionando a pessoa e anotando as respostas no formulário.

No início, deve ser deixado claro para a pessoa que as informações serão tratadas com sigilo e fazê-la assinar um termo de permissão para utilização dos dados, em caráter sigiloso, a fim de ajudá-la em seu processo de cura ou libertação.

As perguntas deve dar ênfase a qual é a necessidade que a pessoa sente para procurar o exorcista diocesano e se trouxe encaminhamento do pároco, que o apresente, fazendo-se uma checagem minuciosa sobre a vida espiritual que leva: frequenta os sacramentos? Se não, por quê? Quando foi a última vez que comungou? E a última em que se confessou? Como se confessa? Se prepara antes? Reza pedindo o dom do arrependimento? Existem vícios ou pecados que luta para deixar de cometer? Quais seitas frequenta ou frequentou? Possui envolvimento com ocultismo? Qual?

As perguntas acima são exemplos, mas muitas outras devem e podem ser acrescentadas ao questionário.

Por fim, se possível, deve-se convidar a pessoa para rezar as orações do cristão: Pai Nosso, Ave Maria, Veni Creator e pedir a Deus que ilumine as causas que levaram a pessoa a chegar até o centro de escuta ou pastoral diocesana. Essa oração deve manifestar a fé da Igreja, ser feita com confiança e em nenhum momento, deve ser voltada para a libertação e nem tampouco, ao confronto com os demônios.

Uma simples oração feita com fé, já é necessária para desencadear reações violentíssimas em quem sofre com problemas espirituais. Se ocorrerem esses tipos de reações, deve-se pedir humildemente e com fé aos anjos e a Virgem Santíssima para acalmar a pessoa e deixá-la tranquila, a fim de que seu caso seja devidamente encaminhado. Não mandar a pessoa embora sem ter certeza de que está bem!

O ocorrido deve-se relatado em campo específico no questionário para ser levado ao exorcista, a fim de que ele saiba do ocorrido.

 

Notas explicativas

[1] Exorcista oficial da Diocese de Roma e Presidente da Associação Internacional dos Exorcistas.

[2] Possessões diabólicas e exorcismo, p.141.

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