As quatro crises de São José

Dom Artur Ważny
Bispo auxiliar da Diocese de Tarnów
Transcrição do vídeo Retiro Quaresmal 2021 – Coração do Pai (Patris Corde)
Em tradução livre do polonês

 

…e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. São José é um pai criativo e corajoso.

 

Do Primeiro livro de Samuel: 1Sm 17, 48-49.

“Levantou-se o filisteu e marchou contra Davi. Este também correu para a linha inimiga ao encontro do filisteu. Pôs a mão no alforje, tomou uma pedra e arremessou-a com a funda, ferindo o filisteu na fronte. A pedra penetrou-lhe na fronte e o gigante caiu com o rosto por terra.”

 

O Papa Francisco em sua carta Patris Corde escreve que, diante de algum perigo, às vezes queremos fugir do campo de batalha. Mas se ficarmos, então o Senhor faz emergir de dentro de nós alguns recursos que não sabíamos que tínhamos. E se às vezes Deus – como parece – não agir, Ele confia em nós e conta com o fato de que, por meio de nossa criatividade, por meio de diversos talentos que Ele nos deu, sairemos dessa situação com segurança.

Deus permite que enfrentemos tentações, pois essas não são uma coisa ruim. Claro, elas são um perigo, um risco, mas se as superarmos, crescemos. É como um saltador de esqui que desce a colina e chega ao ponto de decolagem e se ele saltar bem, voará lindamente e alto, mas se saltar mal, poderá cair. Ele pode se machucar. Há um risco, mas Deus confia em nós. E é lindo, escreve o Papa Francisco, referindo-se também a São José, que Deus confia em São José, confia no homem em geral, confia-lhe várias tarefas, mesmo quando o homem é, com pode parecer, meio despreparado. É porque Deus gosta de agir por meio de eventos e pessoas. Ele poderia agir diretamente, mas Lhe agrada agir por meio de eventos e pessoas e é assim que São José age. Podemos falar de algum tipo de crise, tentação na vida de São José. Eu gostaria de falar sobre quatro dessas crises, elas já foram mencionadas antes, mas podemos olhar para elas de um ponto de vista diferente.

Podemos falar sobre a crise de Nazaré, crise de Belém, crise do Egito e a crise de Jerusalém.

A primeira crise, uma espécie de tentação na vida de São José, é a crise de Nazaré – quando ele descobre que sua amada está grávida. Essa é a crise que ele supera. Ele poderia ceder à tentação de se afastar, mas enfrenta a batalha e sai vitorioso e descobre que Deus preparou para ele uma vida muito mais bela do que ele mesmo jamais poderia ter sonhado.

A segunda crise é a crise de Belém, quando acontece que não há lugar para o Filho de Deus nascer. Mas Deus realmente confia em José, confia naquele que foi capaz de fazer do estábulo o lugar do nascimento de Deus, aquele que mesmo no estábulo foi capaz de preparar uma festa. Esta é uma história verdadeiramente extraordinária na vida de São José e pode-se replicar em nossa vida, pois podemos descobrir a presença de Deus mesmo naqueles lugares onde nos parece que Ele não deveria estar e Ele aparecer mesmo onde – como pode parecer para nós – não seria apropriado para a Santidade de Deus e a Glória de Deus.

A terceira crise enfrentada por São José, que ele viveu e superou vitoriosamente, foi a crise do Egito, quando teve que fugir para uma terra estrangeira, quando teve que arranjar as condições para sua família morar e acontece que para este Egito, no simbolismo bíblico uma terra de escravidão, uma terra de pecado, vai o Filho de Deus. Às vezes, Deus usa tais situações, várias circunstâncias em nossas vidas onde nós, como testemunhas do Evangelho, as testemunhas de Cristo podemos ir e pregar o Evangelho. Não em condições favoráveis, mas sim em condições difíceis, no Egito, entre pessoas que muitas vezes não conhecem a Deus ou não querem conhecê-lo. E, no entanto, o Senhor Deus nos convida para lá, de certa forma, Ele nos coloca à prova, para desenterrar todos esses recursos criativos que ele colocou em nós. Assim, podemos abordar a evangelização com coragem criativa.

A quarta crise enfrentada por São José é a crise de Jerusalém. Podemos dar este nome à situação em que Jesus com 12 anos, no Templo, encontrado por seus pais, lhes diz: vocês não sabiam que devo estar na casa de meu Pai?

Assim, então, indiretamente, José ouve Jesus dizendo: você não é meu pai. Outra pessoa é meu pai.

Ele poderia se ofender, ele poderia deixar Jesus, e ainda assim sabemos que Jesus continua a crescer nesta família e que José é um companheiro em Sua vida. Às vezes, pode ser que os filhos digam aos pais: não vou ouvir você, não vou seguir seus passos, não vou escolher os sonhos que você tem para mim, não vou seguir sua visão, minha escolha será totalmente diferente. Mas isso não significa que criamos mal os filhos, não significa que somos maus pais. O Papa repetiu muitas vezes, também nesta carta, que devemos permitir que as crianças façam as coisas de novo, deixar-se surpreender, que é exatamente assim que Deus age, que Ele quer de nós que, enfrentando uma crise, criemos uma nova realidade. Que demos ao mundo uma qualidade totalmente nova.

Agradecemos a São José por ter assumido todos esses desafios, por enfrentar crises e por saber superá-las. E graças a isso ele passou por sua vida, assim como por toda a oração do Pai-Nosso, por cada uma de suas súplicas, direto para os braços do Pai. E um dia ele desapareceu das páginas do Evangelho. Acho que, assim como o bíblico Enoque, que em determinado momento andou tão longe, tão perto de Deus, que Deus lhe disse: “fica aqui comigo para sempre”. E José desaparece das páginas do Evangelho, mas entra direto nos braços do Pai Celestial e com coração de pai, Patris Corde, intercede por nós para que possamos descobrir o amor de Deus em nossa vida e compartilhar Seu amor com os outros.

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