Era 11 de julho de 1986 e o Padre Gabriele Amorth estava no apartamento do bispo vigário de Roma, cardeal Ugo Poletti. Era apenas uma visita cordial, sem hora marcada, para trocar algumas palavras com seu bispo. O cardeal costumava receber os padres sem hora marcada, pois muitas vezes eles precisam perceber que são ouvidos. O ministério sacerdotal costuma ser solitário.
A conversa é cordial, e o cardeal pergunta ao padre Amorth sobre seu trabalho na Pia Sociedade de São Paulo, onde é jurista e mariólogo. A conversa evolui e quando se dão conta, estão falando sobre o Padre Candido Amantini, há 36 anos o exorcista oficial da Diocese de Roma. Com surpresa o cardeal pergunta:
“- O senhor conhece o Padre Cândido?”
E o padre Amorth responde:
“- Sim. Fui conhecer, por curiosidade, o local onde ele faz os exorcismos, o Santuário Scala Santa, que se encontra a poucos passos daqui. Eu o conheci e, de vez em quando, vou visitá-lo.”
A fama de bom governante de Poletti se faz conhecer por Roma. Quando ele decide algo, ninguém é capaz de lhe opor, pois rapidamente escreve e termina com sua assinatura legível e o timbre na parte inferior do papel.
Para a surpresa do Padre Amorth, Poletti abre uma gaveta de sua escrivaninha sem explicações e em um papel timbrado oficial da diocese começa a escrever por um minuto numa tinta preta, terminando por carimbar a folha escrita.
Como receio, Padre Amorth não se atreve a lhe perguntar do que se trata, pressentindo o que viria, mas sem dar muita importância e aguardando o esclarecimento do cardeal:
“- Este envelope é para o senhor. Parabéns. Sei que o fará bem.”
Sem saber o que dizer, Padre Amorth decide abrir o envelope na frente do cardeal e depara-se exatamente com o que seu pressentimento lhe avisara:
Roma, 11 de junho de 1986.
Eu, cardeal Ugo Poletti, arcebispo vigário da cidade de Roma, por meio deste documento nomeio o Padre Gabriele Amorth, religioso da Pia Sociedade de São Paulo, exorcista da diocese. Ele colaborará com o padre Candido Amantini enquanto for necessário.
Dou fé,
Cardeal Ugo Poletti
Arcebispo Vigário de Roma
Atônito, até tenta contestar:
“- Eminência, eu…”
Ao passo que logo é interrompido:
“ – Caro padre Gabriele, não deve dizer nada. Assim decidi, assim deve ser. A Igreja tem desesperada necessidade de exorcistas. Sobretudo Roma. Há muitas pessoas que sofrem porque estão possuídas, e ninguém se encarrega de libertá-las. Padre Candido, faz tempo, pediu-me um ajudante. Eu sempre dou uma desculpa. Não sei quem lhe mandar. Quando o senhor me disse que o conhecia, percebi que não posso demorar mais. O senhor fará bem o trabalho. Não tenha medo. Padre Candido é um mestre especial. Saberá como ajudá-lo.”
Sem ter o que fazer, apreensivo, Padre Amorth deixa o escritório do cardeal Poletti com um pouco de temor do que aconteceria. E, decidindo aceitar o novo encargo, dirige-se à Basílica de São João de Latrão para pedir a proteção de Nossa Senhora contra as ciladas do mal.
Nascia ali, um dos maiores exorcistas que a Igreja já produziu.
Fonte: livro “O último exorcista: minha luta contra Satanás”, editora Ecclesiae, 2012, págs. 13, 14, 15, 16 e 17.