Exorcista de Taubaté explica subsídio da CNBB sobre exorcismo

Atendendo a um pedido dos Bispos brasileiros à Comissão  Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil elaborou o subsídio Exorcismos: reflexões teológicas e orientações pastorais, apresentando reflexões e diretrizes sobre o exorcismo para o Brasil. “O objetivo do subsídio é recordar os aspectos fundamentais da fé cristã sobre o influxo do maligno no mundo e sobre os exorcismos.” (p. 11), desmistificando com a realidade as impressões, quase sempre nada precisas, transmitidas por filmes e programas sobre demônios e exorcismos. “O fascínio é garantido pelos sentimentos de medo, perplexidade e terror que instigam a fantasia humana. Aspectos de uma religiosidade arcaica, mítica e mágica retornam com frequência e provocam angústia, irracionalidade e dificuldades para a ação evangelizadora” (p. 11). Em contrapartida, o documento traz um alerta sobre certas concepções e correntes filosóficas, como o cientificismo, que “[…] propagou a noção de que só é real o que for verificável empiricamente.” (p. 12), e o Iluminismo da Idade Média Moderna que “[…] criticou as interpretações sobre  diabo e tentou compreender toda a realidade a partir de esquemas racionais. De certa forma, difundiu-se a inexistência do maligno e se consideraram as práticas de exorcismos como superstições de pessoas menos esclarecidas.” (p.12).

Remeter a uma ação diabólica todo o mal que existe no mundo, é um grande exagero, porém, excluir a possibilidade dessa ação ou diminuí-la, a ponto de quase se negá-la, é ignorância teológica e exegética. Por isso, o Documento, logo em seu primeiro capítulo, aborda o tema DIABO E DEMÔNIOS NA SAGRADA ESCRITURA. “Os conceitos que temos de diabo ou satanás e demônios são resultado de um longo processo marcado pela influência de diversas tradições.” (p. 17). Em seu segundo capítulo, trabalha o tema JESUS EXORCISTA: “A pregação e as atitudes de Jesus, segundo o Novo Testamento, contaram com a existência do diabo e dos demônios, ainda que tal constatação não exclua diversas interpretações. Os Evangelhos Sinóticos atestam que Jesus praticava exorcismos” (p. 25). Contudo, “[…] o Novo Testamento apresenta Jesus dedicado a instaurar uma nova ordem, em que todo o mal seja vencido e todos possam gozar da verdadeira vida. Essa plenitude depende de uma concepção integral do ser humano: corpo, mente, espírito. Distúrbios físicos, psíquicos ou espirituais abalam a pessoa como um todo, por isso Jesus manifesta sua divindade restabelecendo a integridade perdida, especialmente pelo pecado. As curas e os exorcismos são dois sinais diferentes que manifestam a irrupção, por Jesus, do reinado de Deus.” (p. 27 e 28).

O tema do capítulo terceiro, CRISTO CONFERE À IGREJA O PODER DE EXORCIZAR, relembra que “Ao escolher os apóstolos, Jesus envia-os dois a dois e lhes confere o poder sobre os espíritos impuros. Eles saíram proclamando a Boa-Nova e expulsando muitos demônios (Mc 1,7.13)”. E ainda, “segundo a tradição litúrgica da Igreja, admite-se a existência do diabo e a ele se deve renunciar.” (p. 30 e 31). Aqui, o Documento faz referência às fórmulas de renúncia ao mal que se encontram nos ritos do Batismo e do Catecumenato. No capítulo quarto e quinto, sob os temas O MALIGNO SEGUNDO A TRADIÇÃO CRISTÃ e ENSINAMENTOS DO MAGISTÉRIO RECENTE SOBRE O MALIGNO, o Documento diz: “As comunidades cristãs, ao longo do tempo, conheceram diferentes posições sobre a presença do maligno e sua ação, conheceram diferentes posições sobre a presença do maligno e sua ação no mundo.” (p. 33), e cita alguns Padres da Igreja, concluindo que “[…] os Santos Padres ensinaram que satanás, guiado pelo seu orgulho, expressou seu “não” a Deus. Depois que Deus revelou aos anjos seu desejo  de estender seu amor ao ser humano e lhe conceder tão alta posição, alguns anjos, usando equivocadamente sua liberdade, rebelando-se por soberba, sendo expulsos do céu.” (p. 34). E cita o Sínodo de Braga (551-561), o IV Concílio de Latrão e Santo Tomás de Aquino e as Sagradas Escrituras, para mostrar que Deus criou os anjos todos bons e que os demônios se fizeram assim por si mesmos (cf. p. 34).

Dentre os documentos do Magistério recente sobre o maligno, o Documento destaca a Constituição Sacrosanctum Concilium, que ensina que Cristo, enviado do Pai, confiou aos Apóstolos a pregação do Evangelho e a libertação do poder de satanás. Essa obra de salvação se atualiza também mediante a celebração dos sacramentos da Igreja (SC, n.6). Os números 13, 22 e 37 da Constituição Pastoral Gaudium et Spes e ainda o número 3 Decreto Missionário Ad Gentes tratam da questão.

O capítulo sexto do Documento trata especificamente do EXORCISMO e a possessão demoníaca e o último traz importantes indicações pastorais: “O livro Ritual de exorcismo e outras súplicas (p. 43) destaca que é preciso a máxima prudência antes de se propor um exorcismo, e sugere ao exorcista que ‘não creia facilmente que alguém esteja possesso do demônio, pois pode se tratar de outra doença, sobretudo psíquica’”. (p. 46). E lembra a importante e prudente declaração do cânon 1172 do Código de Direito Canônico que a ninguém é lícito proferir exorcismos sobre pessoas possessas, a não ser que o Ordinário do lugar tenha concedido peculiar e explícita licença para tanto. Determina também, que tal licença só pode ser concedida pelo Ordinário do lugar a um presbítero dotado de piedade, sabedoria, prudência e integridade de vida (p. 48, n.2).

Por fim, as indicações pastorais destacam a importância do discernimento na interpretação de cada caso, do conhecimento sobre a Demonologia, o perigo de não se “admitir a possibilidade de que o maligno tenha influência sobre a vida das pessoas” (p. 52), de uma catequese adequada de em relação ao uso dos sacramentais e da graça realizada por Cristo no mistério pascal, que é sempre maior do que a força do diabo e do pecado.

Padre Décio, pároco e exorcista da Diocese de Taubaté.

Artigo publicado no Jornal O Lábaro, da Diocese de Taubaté, edição do mês de Março de 2018.

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