Família é morta em falso ritual de exorcismo

A tragédia que sucedeu ao falso ritual de exorcismo de uma casa no dia 11 de fevereiro, no Sul da Itália, nos faz refletir algo que temos sempre ensinado desde a fundação do Portal Cura e Libertação: o exorcismo não é para amadores! 

A Santa Igreja sempre nos ensinou que lidar com os demônios não pode ser uma prática supersticiosa e deve ser discernida pelos ministros ordenados presbíteros, devidamente preparados e nomeados para o ministério do exorcismo. Quando essa regra não é seguida, as consequências podem ser catastróficas.

O que você vai aprender neste artigo

Como tudo aconteceu?
A prática do exorcismo
Nota da Associação Internacional dos Exorcistas

Por ano, milhares de pessoas procuram a Igreja Católica ao redor do mundo em busca de um sacerdote exorcista. Ao longo das últimas décadas, os bispos de muitas dioceses nomearam sacerdotes para exercer este ministério, mas ainda há um longo caminho a percorrer. O ponto de virada nesta grave situação foi o maravilhoso trabalho do Pe. Gabriele Amorth, que escreveu muitos livros sobre o exorcismo, fundou a Associação Internacional de Exorcistas e passou a maior parte da sua vida atendendo e rezando por pessoas atormentadas pelo demônio. Contudo, o exorcismo não é praticado somente na Igreja Católica e, nas diversas religiões, encontra seu espaço numa cultura de combate ao demônio ou até de superstição. O caso da pequena cidade de Altavilla Milicia choca pela falta de compreensão do que é o exorcismo e de quem está habilitado a realizá-lo. Mais do que isso: mostra-nos como casos que não tem relação com a ação extraordinária do demônio (que são a maioria) não podem ser confundidos com uma possessão ou até infestação diabólica e como casos reais não podem cair em mãos erradas.

Como tudo aconteceu?

No domingo, 11 de fevereiro, o pedreiro Giovanni Barreca, de 54 anos, confessou ter assassinado a esposa, Antonella Salamone, 41, e os filhos Kevin, 15, e Emanuel, 5, na pequena cidade de Altavilla Milicia, com apenas 8,7 mil habitantes, região de Palermo. O caso foi denunciado pela única sobrevivente do massacre, a filha de 17 anos que acusou o pai de cometer os assassinatos durante um exorcismo.

A polícia também prendeu dois cúmplices, acusados de participarem do massacre: Sabrina Fina, 42 e Massimo Carandente, 50, sob a suspeita de terem encorajado Giovanni a matar a sua família com o pretexto de libertar a sua casa de demônios (infestação diabólica). Os detalhes do caso chocam ainda mais quando descobrimos onde foi que os suspeitos de tamanha brutalidade se conheceram: numa igreja evangélica da Sicília. Os laços de amizade entre os três fortaleceram a obsessão de Giovani pelo exorcismo e culminaram nos assassinatos brutais de quase toda a sua família. 

Giovani só não matou a sua filha de 17 anos, mas ao cometer os crimes, ligou para a polícia e no telefonema foi categórico: “eu matei minha família, venham me pegar!”

A brutalidade foi tamanha que os corpos dos meninos tinham sinais de estrangulamento, com um deles amarrado a uma corrente. A esposa, mãe dos meninos, foi encontrada carbonizada e enterrada em um local perto da residência da família. A filha de 17 anos, única sobrevivente do massacre, foi encontrada em estado de choque em um dos quartos da casa.

A prática do exorcismo

As situações envolvendo o exorcismo, seja na Igreja Católica ou qualquer outra denominação religiosa, são sempre envoltas em polêmicas. Primeiro, porque existe a corrente tradicional que deseja fazer acreditar que o demônio não existe. Segundo, existe a corrente dos que o veem em todo lugar. Em terceiro, encontramos os equilibrados, sóbrios, que sabem que a ação extraordinária existe, mas que não é esse o nosso foco enquanto cristãos. Estes últimos são muito poucos.

Jesus, em sua passagem por este mundo, praticou exorcismos, curou enfermos e separou muito bem uma coisa da outra:

“Pela tarde, apresentaram-lhe muitos possessos de demônios. Com uma palavra expulsou ele os espíritos e curou todos os enfermos. (Cf. Mt. 8, 16)”

Em Marcos, encontramos outra belíssima passagem, onde Jesus liberta um possuído pelo demônio:

“Dirigiram-se para Cafarnaum. E já no dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e pôs-se a ensinar. Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas. Ora, na sinagoga deles achava-se um homem possesso de um espírito imundo, que gritou: “Que tens tu conosco, Jesus de Naza­ré? Vieste perder-nos? Sei quem és: o Santo de Deus!”.* Mas Jesus intimou-o, dizendo: ‘Cala-te, sai deste homem!’. O espírito imundo agitou-o violentamente e, dando um grande grito, saiu.” (Cf. Mc 1, 21-26)

Dizer que o demônio não existe é deixar de acreditar no próprio senhor Jesus.

Nota da Associação Internacional dos Exorcistas

Diante de algo tão grave, a Associação Internacional de Exorcistas emitiu uma nota esclarecendo do que se trata quando falamos de um autêntico exorcismo. Tomemos nota de alguns pontos importantes:

Em tradução livre do italiano

“[…]O quadro dramático que surge, também ligado à associação do homem a um grupo religioso não especificado, juntamente com um casal de conhecidos que também foram detidos, impõe algumas considerações sobre a natureza do exorcismo na Igreja Católica que – convém especificar com essa nota – não tem nada a ver com práticas mágico-rituais com resultados violentos. Conforme estabelece o Rito dos Exorcismos promulgado pela Igreja Católica e explicado nas Diretrizes para o ministério do exorcismo, o exorcismo pode ser tanto uma súplica, uma invocação de ajuda, um pedido dirigido a Deus, para intervir e libertar-se da ação extraordinária do diabo e sua influência nefasta sobre uma pessoa, um lugar ou um objeto. O exorcismo também pode ser um comando, uma ordem, uma injunção imperativa dada ao diabo, para abandonar uma pessoa, um lugar ou um objeto que sofre sua ação extraordinária. Existem, portanto, duas maneiras de realizar um exorcismo, uma acusativa e outra imperativa.”

Sobre a celebração do exorcismo, a AIE esclarece:

“[…]o exorcismo é realizado em nome e por autoridade da Igreja Católica, por ministros nomeados pela Igreja Católica e de acordo com os ritos por ela estabelecidos. O sacerdote que administra o exorcismo é, portanto, neste caso, a própria Igreja, que atua sempre em união e dependência de Cristo.”

Em relação às qualidades do exorcista a AIE esclarece na nota que se faz necessário:

1) um ministro idôneo, isto é, um sacerdote nomeado pelo seu próprio Bispo;

2) a observância dos ritos litúrgicos aprovados pela Igreja;

3) a intenção de fazer o que a Igreja faz.

Cuidemos para que a formação adequada chegue aos nossos irmãos!

Nota da Associação Internacional de Exorcistas

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