“Eu não procuro mais nada; sacrifiquei tudo e todos a Deus; agora eu me preparo para morrer. Agora é mesmo verdade que não me resta mais nada, Jesus. Eu recomendo a minha pobre alma a Ti… Jesus!”
A frase acima foi dita por Santa Gemma no dia de sua morte. Ela morreu no sábado santo do ano de 1903, a 11 de abril. Sofreu muito, mas tudo foi por amor a Jesus. Foi ele que a ensinou a amar.
Em um de seus êxtases, teve um diálogo emocionante com Jesus:
Gemma: — “Senhor, quem vos matastes?”
Jesus: — “Foi o amor…”
Em outro de seus êxtases, Jesus é ainda mais claro a respeito do amor:
“[…]’Vê, Filha, e aprende como se ama’. E me mostrou Suas cinco chagas abertas. ‘Vês esta Cruz, estes Espinhos, este Sangue? São obras de amor, e de amor infinito. Vê a que ponto te amei. Queres me amar de verdade? Antes aprenda a sofrer. O sofrer ensina a amar’. Provei, nessa visão, uma nova dor, e pensando no amor infinito de Jesus por nós, e nos sofrimentos que assumira pela nossa salvação, desmaiei, caí por terra, e me recuperei depois de várias horas. Tudo o que me acontecia durante essas orações, eram grandes consolações que, mesmo se prolongadas por horas, não me cansavam[…]” [1]
Gemma Maria Humberta Pia Galgani nasceu em Camiliano, Toscana, Itália, em 12 de março de 1878 [2]. Sua vida foi marcada pelo sofrimento: perdeu a mãe ainda muito jovem, o pai adoeceu e morreu deixando a família órfã, sua casa foi penhorada e padeceu de longas e duras enfermidades, algumas delas tendo sido a pedido da própria Gemma, para a conversão dos pecadores.
Santa Gemma foi a primeira santa canonizada no século XX, por sua Santidade, o Papa Pio XII. É uma santa extremamente popular em todo o mundo, pois com seu exemplo de vida, nos ensinou a venerar com infinito amor a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Conta-se que a respeito dela, o santo Padre Pio sempre dizia para que as pessoas fossem a Lucca para conhecer sua história e chorava muito ao lembrar que ela padeceu dos mesmos sofrimentos que ele, estigmatizada.
Quando Gemma morreu, foi imposto sobre o seu corpo o hábito passionista, que ela tanto quis assumir em vida, mas que lhe foi negada a possibilidade por causa da sua saúde frágil.
Gemma é a “jóia” de Jesus. Ela foi escolhida para sofrer e padecer em prol dos pecadores. Sua mãe morreu no dia em que ela recebeu o sacramento da Confirmação. Durante a santa missa, ela rezava com muita fé pedindo a Jesus a cura de sua mãe, quando ouviu a voz do Senhor no coração:
– Tu me dás a tua mãezinha?
-Sim, contanto que Tu me leves também!
-Não! Dá-me a tua mãe sem reservas. Por hora, tu deves esperar com o teu pai. Vou te levar para o céu mais tarde.
A essas palavras, Gemma aceitou com o coração a vontade do Senhor. Nossa santinha era apaixonada pelo crucificado. A Paixão do Senhor era para ela o único momento em que se sentia plena para amar. Até os seus afetos, ela entregou a Jesus.
Como passionista de coração, foi em 5 de setembro de 1899 que, durante um êxtase, fez uma das maiores declarações de amor a Jesus que podia ter feito:
“Tu és o único amor de todas as criaturas. Tu, Jesus…a chama de meu coração. Meu Jesus, desejaria Te amar com toda [a minha alma]…Santos todos do Céu, emprestem-me os vossos corações. Jesus, ó Jesus, eu Te serei fiel para dar Te todo o meu coração! Eu o dou a Ti, mas faze-o maior. Se eu tivesse tantos corações, Jesus, e grandes, grandes, quereria amar somente a Ti. E Tu me amas tanto! Senhor, eu desejaria amar-Te da mesma maneira como me amas. Mas, quem Te reduziu a tal estado? Quem te matou? Faze-me também padecer; assim poderei dizer que sei Te amar. Derrama uma gota de Teu Sangue em meu coração e verás que te amo tanto por Teu amor…Foi precisamente o amor que Te matou. Jesus, faze-me morrer , também a mim, de amor…Seria um tormento a vida: não há pessoa, no mundo, que possa consolar os meus afetos. Somente Tu. Os espinhos, a cruz, os cravos, tudo é obra do amor. É assim que se ama?…Jesus, eu aprendi e sacrificarei tudo por Ti; mas Te serei fiel…” [3]
Gemma era uma mulher forte. Apesar da pouca idade, e dos poucos estudos, demonstrou que não é preciso estar nas melhores escolas para amar. O pouco que estudou, o fez junto das Oblatas do Espírito Santo, da qual foi aluna da fundadora, a Beata Elena Guerra.
Jesus avisou Gemma que o demônio estava furioso com ela e em breve ele viria para atormentá-la. Mas lhe disse que não tivesse medo dele. Gemma seguiu o conselho de Jesus. Tanto que chegou mesmo a duvidar que os tormentos que passava eram mesmo pela “pata” do maligno:
“(…) O diabo me bateu, ainda (digo diabo, mas não sei quem seja). Veja: ontem, pela manhã, a tia me mandou tirar um balde de água para encher as bacias dos quartos. Tirei a água, enchi as bacias e pousei o balde para levá-lo ao devido lugar; mas, para levá-lo deveria passar perante uma imagem do Sagrado Coração de Jesus. Ao vê-lo, meu coração deu três ou quatro palpitações muito fortes. Saudei Jesus com estas palavras: ‘Oh meu Jesus! Concedei-me a graça de unir-me sempre mais a vós. Que logo eu seja Vossa, de modo que jamais nos separemos’. Logo que pronunciei essas palavras recebi uma bordoada tão forte, no ombro esquerdo, que caí por terra sem fratura alguma. Não compreendi nada do que acontecia. Sentia uma dor bastante forte e ainda a sinto e me dói ao fazer qualquer coisa”. [4]
Os três propósitos de Jesus a Gemma para que ela se tornasse sacrifício de expiação
A vida de Gemma foi um eterno sofrer. Ela assim o quis e em muitos momentos, pediu ao Senhor para sofrer como Ele sofria, por amor às almas. Chega a inquietar o nosso coração a maneira como ela desejava ardentemente sofrer. Mas para que possamos compreender esse desejo de Gemma, nada melhor do que ler dela mesma o que a levava a ser assim:
“Se soubesses Padre, como Jesus está aflito em certos momentos, em certos tempos. Oh! Não dá, verdadeiramente, não dá para resistir vendo-O sofrer. E, para agravar, quantos são os que se compadecem? Muito poucos; Jesus se encontra, quase sempre, só. Sofro tanto, tanto, sabe, ao ver Jesus no meio das dores! Como vê-l´O nesse estado e não ajudá-l´O? Em certos momentos tenho um desejo enorme de sofrer todos os tormentos do mundo aos quais não posso procurá-los por mim mesma. Há uns oito dias, depois da comunhão, me vieram espontaneamente esses propósitos que os fiz a Jesus:
Primeiro: “Oh meu Deus! Se porventura quiseres a minha vida, por castigo de meus tantos e inumeráveis pecados, desde agora eu vo-la ofereço; estou pronta para morrer, neste momento, se assim Vos agradar. Ofereço-Vos, oh! meu Deus, a minha vida unida à vida de Jesus, os meus sofrimentos unidos aos de Jesus. Apenas Vos peço uma dor perfeita de meus pecados, e pronto!”
Segundo: “Jesus, Vós me haveis mostrado, muitas, muitas vezes, que é Vossa vontade que eu vá para um convento. Se o desejas, estou pronta. Eu almejo tanto, tanto, isso sim, para padecer, para amar-Vos, e para fazer penitência pelos meus grandes pecados.”
Terceiro: “Desejas, oh! Jesus, que eu viva assim Bendito sejais. Quereis, talvez, que eu viva no mundo, abandonada, só e desprezada? Estou pronta. Seja feita, de qualquer maneira, a Vossa santíssima vontade”.[5]
Irmão de Santa Gemma viveu no Brasil
O irmão de Gemma, Heitor veio para o Brasil e viveu na cidade de Araraquara, São Paulo. Afastou-se da religião e nem sequer soubera quem foi a sua irmã. Guardava um fotografia dela consigo e durante uma missão redentorista na cidade, ouviu bater em sua porta um padre. Este, ao entrar na casa, viu logo a foto de Santa Gemma e ficou admirado.
Heitor logo disse ao Padre: “Está é minha irmã falecida”. O Padre, ao perceber o que se sucedera com a perda de fé do homem, logo começou a falar quem era sua irmã, do grande bem que ela fez enquanto viveu, sendo reconhecida já no mundo todo como uma santa. O homem, admirado, ficou encantado em saber que sua irmã era uma santa e ele, que estava tão afastado de Deus, logo foi a Igreja e procurou confessar-se para fazer as pazes com o Senhor, nosso Deus.
Que hoje, no aniversário de nascimento de Santa Gemma, possamos aprender com ela a amar Jesus como ele merece!
São tempos em que precisamos aprender a amar!
Santa Gemma: rogai por nós!
Referências
[1] GALGANI, Gemma. Op. Cit., 1997, p. 256.
[2] Odoríssio, Padre Mauro. JESUS, Santa Gemma Galgani: a Gema, 2009, p. 11.
[3] GALGANI, Gemma. Op. Cit., 1997, p. 3.
[4] GALGANI, Gemma. Op. Cit., 1941, p. 358.
[5] Odoríssio, Padre Mauro. JESUS, Santa Gemma Galgani: a Gema, 2009, p. 209 e 210.
