Hazbin Hotel: o inferno não tem uma segunda chance

O desejo do homem em alcançar a salvação só é genuíno se encontrar em Deus o seu fim. Não existe salvação sem o nosso Criador e ela foi conquistada para nós através do sacrifício do Seu filho único, Jesus Cristo, Nosso Senhor.

Ao longo dos últimos anos, percebemos um movimento pouco sóbrio de tentar alterar as verdades da fé, acomodar o mundo à Igreja e desenvolver um senso de que o pecado não é mais pecado. Tudo isso, não raras as vezes, criou uma confusão que desviou o nosso foco a respeito do que realmente viemos a este mundo para desempenhar: o Senhor nos quer Santos (Cf. Lv 19, 2)

Salvar-se passa por uma escolha pessoal que abrange a nossa liberdade. São Paulo vai nos ensinar que “tudo me é permitido, mas nem tudo convém” (Cf. I Cor 6, 12)

O tempo de Deus não é o nosso e precisamos compreender que Ele é rico em misericórdia e espera todos os dias o nosso sim. São as nossas escolhas que nos fazem dizer não ao Senhor. Essas escolhas são feitas quando decidimos negar a Deus e sua misericórdia, quando nos afastamos da sua graça, nos tornamos idólatras, nos negamos a respeitar os nossos pais e honrá-los, não respeitamos o dia do Senhor, tornamo-nos mentirosos, assassinos, depravados, infiéis, cobiçadores e invejosos. Nessa chuva de más decisões, passamos a operar através das más inclinações, os pecados capitais, que nos fazem tomar as piores atitudes. Por trás de um pecado mortal há sempre um pecado capital. Num cenário como esse, exercitar as virtudes pode ser o caminho para retomar o controle.

O inferno é a ausência de Deus para todo sempre. Essa definição nos remete a relembrar que desde o dia em que fomos concebidos, Deus lá estava para nos guardar, acolher, ouvir. Ele, o autor da vida, foi quem escutou primeiro as batidas do nosso coração. Então, nascemos, fomos educados, crescemos, aprendermos a decidir por nós mesmos. Aprendemos a fazer escolhas. O livre-arbítrio entra em ação, momento em que o Senhor não interfere: somos livres!

O Papa Francisco, em visita à Paróquia romana de Santa Maria Mãe do Redentor, no ano de 2015 explicou:

“Você não é mandado para o inferno, é você que vai, por escolha própria. O inferno é querer se afastar de Deus, porque eu não quero o amor de Deus “.

Os nossos erros nos fazem aprender e nos arrepender, voltar atrás, reparar as nossas faltas, que sempre têm consequências. Umas mais graves, outras menos. O ponto de reflexão é: voltar a Deus significa reconhecer que me aventurei por caminhos onde Ele não estava. O pecado é o que me afasta de Deus por livre e espontânea vontade. Quando peco, desobedeço a Deus, firo os seus mandamentos, e perco sua graça santificante.

Concluímos, então, que a decisão de pecar é minha e eu possuo a chave para abrir duas portas: a da liberdade com Cristo ou a da escravidão do pecado. Esta última, para muitos, parece ser uma liberdade com felicidade, mas a ilusão em pensar assim é grande!

Morrer em estado de pecado mortal sem se arrepender pode nos levar ao inferno. Retomamos aqui um ponto importante, que já explicamos mais acima: ir ao inferno foi uma escolha pessoal, a partir da vida que eu decidi viver. Assim como ir ao céu também é uma decisão pessoal. O Senhor, nosso Deus, vivo está para nos ajudar e santificar rumo à pátria celeste. Isso é viver na graça de Deus, com os Seus sacramentos, através das lutas diárias, caindo, levantando-se, mas nunca deixando de crer em Sua misericórdia. Quem foi ao inferno o foi por decisão própria! Pior ainda: consciente de que optava por não ter Deus em sua vida.

A partir de tudo isso, podemos começar a analisar a nova série “animada” da Netflix: Hazbin Hotel.

Enredo do Prime Video (em tradução livre do inglês): “Esta série musical animada para adultos segue Charlie, a princesa do Inferno, enquanto ela persegue seu objetivo aparentemente impossível de reabilitar demônios para reduzir pacificamente a superpopulação em seu reino. Depois de um extermínio anual imposto pelo Céu, ela abre um hotel na esperança de que os clientes façam o “check-out” depois de provarem que suas almas podem ser resgatadas.”

A série gira em torno da jovem Charlie Morningstar, filha de Lúcifer e Lilith que tenta encontrar uma forma de redimir ou reabilitar os demônios e condenados do inferno. A ideia de Charlie é, através de um Hotel, tentar recuperar os condenados ao inferno. Como há uma grande população infernal, o céu determinou um massacre anual, a fim de equilibrar a quantidade de almas condenadas ao fogo eterno. Os encarregados de perpetuar o extermínio são anjos do Paraíso (conhecidos como exorcistas), liderados pelo temível Adão. É interessante como certos conteúdos questionam e zombam dos “critérios” que Deus utiliza para condenar as almas, mas não dão uma palavra sobre a responsabilidade que o homem tem em fazer suas próprias escolhas.

A respeito dessa nova série, a Associação Internacional de Exorcistas publicou uma nota em que diz:

“A série retrata os demônios e os condenados de uma forma humorística, oferecendo uma representação que induz a normalização do mal, bem como a subestimação do seu perigo real. A ideia de que as almas condenadas ou mesmo os demônios se podem redimir ficando num hotel é escandalosa e está em contradição com a doutrina católica sobre a confissão, o arrependimento e a verdadeira conversão do coração a Deus.  A série, pela sua representação do Inferno, pela sua visão impiedosa dos demônios e do seu destino (retratado como injusto), pode fomentar uma conceção distorcida do pecado e encorajar uma normalização do ocultismo, aumentando o risco de as pessoas, especialmente os jovens, se aproximarem de práticas mágicas, procurarem interagir com entidades malignas e até aderirem a uma visão satanista da realidade.” (em tradução livre do italiano, artigo da AIE)

Por isso, devemos ter muita atenção em relação ao que entra em nossas casas e permitimos que nossos filhos assistam. Quem vai ao inferno, o faz por livre e espontânea vontade e não tem uma segunda chance.

Coloquemo-nos debaixo do manto materno da Virgem Santíssima!

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