Artigo do Padre Dr. José Eduardo
Pároco da Paróquia São Domingos
Diocese de Osasco – SP
A falta de cultura, infelizmente, é campo para o surgimento espontâneo de lendas, muitas das quais se associam a demonologias populares, temperadas ao sabor dos puritanismos em voga.
Certa vez, quando era criança, lembro-me de uns amigos pentecostais que me contaram, alarmadíssimos, que não se deveria jamais exclamar “rá-tim-bum” ao se cantar “Parabéns a você”, pois aquele era o nome de um demônio, no caso, invocado sobre quem estaria aniversariando. Achei graça naquilo tudo, mas só depois de muito tempo descobri que a expressão teve uma origem pitoresca: por pura gozação, uns alunos da Faculdade São Francisco começaram a caçoar com o nome de um rajá indiano chamado Timbum e a zoação acabou parando no “Parabéns”.
Desambiguar é aquilo que se faz quando uma palavra pode assumir sentidos diferentes e, portanto, devemos precisar em que sentido a estamos usando.
Crenças à parte, no mundo virtual, sobretudo nos jogos de imersão, a palavra “avatar” assumiu outro significado (com certa relação com o primeiro): quando uma pessoa joga, ela assume outra identidade representativa no contexto do jogo e, neste sentido, um “avatar”.
Eu não criarei nenhum avatar para mim simplesmente porque não gosto de modinhas e também sou feio o suficiente para ter apenas uma única versão de mim mesmo. Também não sou ingênuo e sei que o uso de palavras pode ter a finalidade de lacear a percepção das pessoas para que comecem a conviver com significados de religiões alheias e acabem por naturalizá-los.