Campanha da Fraternidade 2021: apoiá-la ou não apoiá-la?

“Os fiéis, segundo a ciência, a competência e a proeminência de que desfrutam, têm o direito e mesmo por vezes o dever, de manifestar aos sagrados pastores a sua opinião acerca das coisas atinentes ao bem da Igreja e de a exporem aos restantes fiéis, salva a integridade da fé e dos costumes, a reverência devida aos pastores, e tendo em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas”. Catecismo da Igreja Católica, nº 907; Código de Direito Canônico, nº 202, inciso 3.

Nós vivemos um tempo onde as divisões tornaram-se comuns. Não precisamos ir muito longe para vermos verdadeiros cismas que se criaram entre grupos católicos, de oração ou até de sacerdotes e bispos. Não existem duas Igrejas: uma corrompida e outra que leva a verdade. Existe a Igreja.

Contudo, é oportuno analisarmos o atual momento em que vivemos e aquilo que vamos iniciar, nos próximos dias, para bem viver o que se propõe.

É nosso dever, como ensina o Catecismo, dialogar com os pastores e mostrar-lhes o erro, com muita caridade, se for necessário.

Nos últimos dias, temos visto a polêmica que se instaurou em relação à Campanha da Fraternidade Ecumênica e as reclamações que dela surgiram, algumas delas muito bem fundamentadas e equilibradas sobre a grave situação em que a Igreja se meteu ao tratar do “ecumenismo” na Campanha desse ano.

A Campanha da Fraternidade surgiu em 1961, em Natal, Rio Grande do Norte. Três padres, que eram responsáveis pela Caritas Brasileira, organizaram o evento e deram-lhe o nome que conhecemos até hoje.

A ideia era arrecadar fundos para as obras assistenciais da Igreja. O que está por trás dela é que devemos escolher todo ano um ato concreto de solidariedade, para transformar dor em amor e levar as pessoas a conhecer o amor do Deus todo poderoso. Infelizmente, não é o que temos visto acontecer nos últimos anos e nem podemos dizer que é um problema exclusivo do que aconteceu com o tema e texto-base da Campanha desse ano. Mas tratemos da questão desse ano, que parece ser o ponto culminante de algo que nunca vimos acontecer: os próprios bispos se levantarem contra a Campanha, a ponto de proibir a coleta destinada a ela em suas dioceses.

Toda Campanha da Fraternidade possui um texto-base, com orientações a respeito de como ela deve ser vivida e implementada nas dioceses e paróquias. E aqui é que começa o nosso problema: o texto-base desse ano foi entregue para ser redigido pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), da qual sua secretária, a Pastora Romi Bencke, é abertamente feminista e defensora, dentre outras coisas, do aborto e da liberdade de escolha do corpo das mulheres, além das pautas LGBTI+ que bem conhecemos. Diz a Pastora:

“Então assim, o problema pra mim tá em justamente de não pod…de não existirem esses espaços para conversar. Direitos sexuais e reprodutivos das mulheres…né? A gente sabe que tem temas que envolvem a agenda do tema dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres são muito difíceis para as igrejas. O aborto, por exemplo.” (Fala citada neste vídeo)

Além disso, dos inúmeros problemas com a Campanha ecumênica desse ano, citamos um específico que está no texto-base:

Item 68 do texto-base: “Outro grupo social que sofre as consequências da política estruturada na violência e na criação de inimigos, é a população LGBTQI+. O já citado Atlas da violência de 2020, mostra que o número de denúncias de violências sofridas pela população LGBTQI+ registradas no Disque 100 no ano de 2018 foi de 1685 casos. Segundo dados do Grupo Gay da Bahia apresentados no Atlas da violência 2020, no ano de 2018, 420 pessoas LGBTQI+ foram assassinadas, destas 164 eram pessoas trans. Percebe-se que em 2011 foram registrados 5 mil homicídios de pessoas LGBTQI+. Seis anos depois, em 2017, este número aumentou para 193 casos. O aumento no número de homicídios de pessoas LGBTQI+, entre 2016 e 2017, foi de 127%. Estes homicídios são efeitos do discurso de ódio, do fundamentalismo religioso. de vozes contra o reconhecimento dos direitos das populações LGBTQI+ E de outros grupos perseguidos e vulneráveis.”

Vemos que nitidamente aproveitou-se de um momento em que, infelizmente, nossos bispos não atentaram-se em revisar o conteúdo do que seria proposto, para tratar de um tema que não encontra lugar nem nos objetivos a que se propõe a Campanha da Fraternidade. É sabido de todos que a Igreja é a favor da vida, nunca será pelo aborto. A união civil de pessoas do mesmo sexo também não é um  tema em discussão, haja vista o ensinamento evangélico cristão a respeito do casamento e todos os  textos do antigo testamento a respeito desse assunto.

Fazemos notar que o tema da violência é arraigado em nossa sociedade. E por essa razão, devemos lembrar o que o local onde se deve discutir esse tipo de assunto é o Congresso Nacional, onde podem-se elaborar leis para regular e punir aqueles que cometem abusos contra quem quer que seja, qualquer público.

Além disso, o Judiciário é responsável pela aplicação das referidas leis. Utilizar-se do espaço quaresmal que a Campanha da Fraternidade ocupa, onde todos os católicos estão voltados para a oração, jejum e a penitência, para discutir a agenda ideológica LGBTQ+ realmente não foi uma ideia sensata.

Convém lembrarmos o que ensinava São Pio X a respeito do ecumenismo e do que se quer introduzir nos dias de hoje na Igreja, corrompendo muitas vezes inclusive a nossa fé católica, retirando Maria dos espaços e removendo crucifixos dos locais sagrados:

“Desde então, aqui não cessou o espírito das trevas em seus venenosos ataques contra a Igreja e as verdades divinas de que é depositária indefectível; e suscitando constantemente novas heresias, foram atentando seguidamente contra todos os dogmas da religião cristã“. Catecismo Maior de São Pio X, Breve Resumo da História Eclesiástica.

E não devemos nos esquecer a respeito do que a Igreja sempre ensinou a respeito do protestantismo, mesmo que seja motivo de dor aos nossos irmãos protestantes:

“O Protestantismo ou religião reformada, como orgulhosamente a chamam seus fundadores, é o compêndio de todas as heresias que houve antes dele, que houve depois e que pode ainda nascer para a ruína das almas“. Catecismo Maior de São Pio X, Breve Resumo da História Eclesiástica.

São Pio X foi declarado santo pela Igreja e seu catecismo não foi destituído. É preciso aprender a amar a Igreja, sem querer “inventar a roda”, acreditando que ela não sabe o que faz e nem para onde vai.

Em relação aos bispos, é importante dizer que muitos deles não foram sequer consultados a respeito da intenção de entregar a confecção do texto-base da Campanha da Fraternidade ao CONIC, nem tampouco, de pessoas que são abertamente defensoras do aborto e tudo mais. Mas assim como cita o catecismo, “Os fiéis[…] têm o direito e mesmo por vezes o dever, de manifestar aos sagrados pastores a sua opinião acerca das coisas atinentes ao bem da Igreja[…].

Baseados nisso e com todo respeito que os pastores sagrados merecem, precisamos dizer que o ideal seria cancelar a Campanha desse ano, reunir os bispos e começar, desde já, os preparativos para a Campanha do ano que vem, pois essa não terá adesão dos católicos e nem condições de ser realizada. Infelizmente, não é conveniente nem contribuir com essa Campanha.

Os bispos mais conscientes dos estragos já produzidos, começam a se manifestar. Citamos aqui Dom Fernando Guimarães, Arcebispo do Ordinariato Militar do Brasil, que em carta enviada a CNBB avisa que suspendeu a coleta para a Campanha desse ano.

 

Também podemos ver a manifestação de Dom Adair Guimarães, Bispo de Formosa a respeito da CNBB. Diz o Bispo: “o povo está morrendo no pecado. Não se fala mais da salvação, não se fala mais da conversão!”

 

 

 

plugins premium WordPress