Documentário: “Reféns do demônio” mostra os perigos do Ministério do Exorcismo

Atenção: esse artigo pode conter spoilers.

Em 15 de janeiro de 2021 o serviço de streaming Netflix removeu do seu catálogo o documentário “Hostage to the Devil” (“Reféns do demônio”), baseado no livro de mesmo nome que conta a trajetória do Padre Malachi Martin enquanto viveu nos Estados Unidos e trabalhou como escritor e Exorcista.

Martin era exorcista em tempo integral, mas exercia sua atividade de maneira autônoma, sem vinculação com uma diocese. Isso significa que ele não tinha autorização de nenhum bispo para exercer o ministério do exorcistado, um perigo para ele e para os outros.

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Acompanhando os depoimentos sobre a sua vida narrados no documentário, encontramos admiradores e inimigos. Percebemos como a sua personalidade era controversa, mas ao mesmo tempo, havia um desejo interior de ajudar as pessoas que sofriam.

Padre Martin era um exímio conhecedor da aplicação do Ritual Romano do Exorcismo de 1614 e conhecia bem os aspectos da demonologia que levam um sacerdote a exorcizar um possuído. Encontrou vários casos nos Estados Unidos e tentou ajudar muitas pessoas. Isso não significa que estamos aplaudindo sua insurreição contra a autoridade de um bispo diocesano, pois a lei da Igreja é muito clara em relação ao desempenho da atividade de Exorcista:

“Ninguém pode legitimamente exorcizar os possessos, a não ser com licença especial e expressa do Ordinário do lugar.
§ 2. Esta licença somente seja concedida pelo Ordinário do lugar a um presbítero dotado de piedade, ciência, prudência e integridade de vida.” [1]

 

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Quem foi o Padre Malachi Martin

Malachi Brenda Martin foi um Padre irlandês, professor de Paleontologia do Instituto Bíblico do Vaticano. Foi assessor teológico do Cardeal Agostinho Bea para o Concílio Vaticano II. Foi ordenado sacerdote como membro do Jesuítas e pediu dispensa de suas obrigações para com a Congregação para ir viver como sacerdote nos EUA. Há muita controvérsia se essa dispensa foi do ministério de sacerdote ou somente de viver como membro dos Jesuítas, pois ele nunca pediu dispensa do voto de castidade e nos EUA, viveu como Sacerdote, celebrando sacramentos. Nunca nenhum bispo ou a própria Congregação dos Jesuítas emitiu nenhum comunicado contra ele desautorizando o uso de ordens e nem o impedindo de fazer o que fazia. Fato é que seu trabalho com o exorcismo aconteceu em larga escala e ele era muito procurado para discernir casos e exercer esse ministério. Tanto leigos como padres, enviavam casos para que o Padre Martin discernisse e exorcizasse.

O ministério de Exorcista sem autorização do Bispo

Em seu longo ministério, teve envolvimento com “personalidades” do mundo da demonologia, como o casal Ed e Lorraine Warren (ambos falecidos). Também respondia perguntas sobre exorcismo e possessão em um programa de rádio e escrevia extensamente sobre o assunto. Tanto que o documentário é fruto de um de seus livros. Leigos que o auxiliavam dão o testemunho da seriedade com que o Padre Martin desempenhava seu ministério e dos exorcismos que ele rezava sobre possuídos. Nos casos mais graves, ele não aceitava a participação de leigos. E foram muitos. Mas o documentário deixa um alerta para os perigos de se exorcizar possuídos sem a benção da Igreja: conta um de seus auxiliares que o Padre encontrou um caso grave de possessão em uma garotinha, numa cidade americana. A criança falava e entendia latim sem nunca ter tido nenhum contato com a língua, além de outros sinais extraordinários. Martin fez um Exorcismo na criança e ao voltar para sua residência, sozinho resolveu subir em uma pequena escada para pegar um livro numa estante. Conforme contam os testemunhos, uma “presença invisível” puxou a escada onde ele estava, levando-o a cair e ferir-se gravemente. Ele ainda conseguiu ligar para pedir socorro a um de seus auxiliares amigos que prontamente o socorreu. Atendido em estado grave no hospital, veio a falecer dias depois. Seus auxiliares não têm dúvidas: foi o demônio da garotinha que o matou.

A afirmação é controversa, mas é possível levando-se em consideração que o Padre exercia o ministério sem autorização de nenhum bispo para tal e nem era vinculado a nenhuma Diocese específica. O Padre que mete-se a celebrar-se exorcismos sem a autorização do Bispo não está protegido pela autoridade que Cristo confiou à sua Igreja e é uma presa fácil para o maligno.

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Acesso ao terceiro

Durante o seu trabalho no Vaticano, Padre Martin leu os documentos secretos sobre o terceiro segredo de Fátima.

Os papéis foram os mesmos lidos pelo Papa São João XXIII e à época, foram guardados às sete chaves. Como sabemos, o Papa de quem tratava o segredo era São João Paulo II.

As revelações que continham o segredo foram trazidas ao conhecimento do público a pedido de São João Paulo II no ano 2000, mas antes foram interpretadas pelo então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger (futuro Papa Bento XVI). Para essa interpretação, por ordem do Sumo Pontífice, o Secretário da Congregação à época, Dom Tarcísio Bertone, foi pessoalmente ao Carmelo de Coimbra entrevistar a Irmã Lúcia e expor a ela a versão final do relatório com a interpretação do terceiro segredo, feito pela Igreja. Ela concordou na íntegra com o resultado e disse:

“Eu escrevi o que vi; não compete a mim a interpretação, mas ao Papa”. [2]

Um dos pontos marcantes dessa interpretação é de que a visão tratava-se do Século XX e suas enormes tragédias com o Nazismo e o Comunismo. Muitos morreram em virtude de professar a fé!

Documentário fora do radar

O documentário não está mais disponível para ser assistido no Brasil, mas em breve faremos um vídeo narrativo contando em detalhes o seu conteúdo para assinantes do Portal.

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Citações

[1] Código de Direito Canônico, Cânon 1172, parágrafos 1 e 2.
[2] Frase dita pela Irmã Lúcia, vidente de Fátima, quando foi entrevistada a pedido do Santo Padre para confirmar o teor da análise do relatório feito  pela Igreja para o interpretar.

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