Entrevista com um exorcista norueguês

Em tradução livre do norueguês. Publicado na St. Olav kirkeblad (Revista Católica Norueguesa, Fevereiro de 2011)

 

A Diocese Católica de Oslo tem um exorcista nomeado desde 2004. Quando eu — em conexão com este caso — quis entrar em contato com ele, recebi, por meio de um intermediário, permissão para uma breve entrevista. Por motivos de privacidade, a identidade do exorcista permanece anônima.

 

Você pode dizer brevemente algo sobre como acabou servindo como exorcista?

Exorcista: A permissão para realizar o exorcismo solene é dada unicamente mediante autorização especial e expressa do próprio bispo.

 

Como ocorre o ritual em si? Você ora o tempo todo ou varia de acordo com cada situação?

 

Exorcista:  O exorcismo é um ato litúrgico que pertence aos sacramentais, portanto é um sinal sagrado onde os dons e as ajudas espirituais são simbolicamente apresentados e recebidos por intercessão da Igreja. O ritual começa com aspersão de água benta, seguido de oração em forma de ladainha. Então, o exorcista lê um ou mais salmos de Davi, e então o evangelho é pregado. O evangelho é seguido pela imposição de mãos, a confissão de fé e a exibição da cruz do Senhor. Por fim, o exorcista lê o chamado especial, no qual pede urgentemente a Deus ajuda para o crente. Se for apropriado, o exorcista também lê a ordem dirigida ao Diabo de que o Maligno em nome de Cristo deve deixar os possessos. O ritual termina com um hino de ação de graças, uma oração e a bênção final.

 

Quantas perguntas você recebe do bispo por ano?

 

Exorcista:  Este é um segredo, aqui se aplica um dever absoluto de confidencialidade.

 

O exorcista deve ser o maior cético, diz o exorcista americano Pe. Gary Thomas, conhecido do livro atual The Rite. Você tem alguma opinião sobre esse equilíbrio entre ceticismo por um lado e estar aberto ao mesmo tempo para o fato de que as pessoas que você conhece podem realmente sofrer de influência demoníaca?

 

Exorcista:  Em supostos casos de influência diabólica, o exorcista deve, acima de tudo, mostrar contenção e um alto grau de julgamento. O exorcista, inicialmente, não deve confiar facilmente na alegação de possessão, pois a pessoa pode sofrer de uma doença. O exorcista também não deve considerar imediatamente como possessão se alguém afirmar de maneira especial ser tentado, atormentado ou perseguido pelo diabo, pois a pessoa pode ser vítima de sua própria imaginação. De qualquer forma, ele deve, com muito cuidado, investigar se a pessoa que afirma estar possuída está realmente ou não.

 

Alguns exorcistas conhecidos, como Gabriele Amorth e José Antonio Fortea, há muito pedem uma atitude mais aberta e apreciativa por parte da Igreja. Como você vê o seu lugar e o de outros exorcistas na Igreja hoje? Você se encontra com mais abertura?

 

Exorcista:  Sim. Cada diocese é obrigada a oferecer este serviço eclesiástico. A transparência também é evidente na educação oferecida e nos congressos e outras reuniões realizadas para exorcistas.

 

A maioria das pessoas pode entender que um exorcista em uma pequena diocese norueguesa deve ser anônimo e cercado de discrição. Em outras partes do mundo, porém, a identidade do exorcista é bem conhecida, e ele trabalha em equipe com psicólogos e profissionais de saúde. Se agora desconsiderarmos a necessidade de se proteger contra, entre outras coisas, os doentes mentais: Você vê alguma desvantagem em seu anonimato como, por exemplo, agora não nos sentamos frente a frente para responder a essas perguntas?

 

Exorcista:  A necessidade de anonimato está relacionada à grande demanda, baseada em parte em uma curiosidade doentia e na nova busca espiritual que existe na Escandinávia. Provavelmente, deve haver outros oito exorcistas e uma equipe para separar as necessidades reais de outros pedidos. Nem antes nem depois do exorcismo deve ser dada qualquer participação à mídia. Nem o exorcista nem qualquer outra pessoa presente deve revelar nada sobre isso, e todos devem mostrar a devida discrição.

 

A Igreja quer estar sempre presente para as pessoas que sofrem, tanto física como mentalmente. Com base em uma mentalidade puramente pastoral: você pode dizer algo sobre as pessoas que você encontra em seu ministério e a importância da oferta de ajuda da Igreja para aqueles que sofrem?

 

Exorcista:  A necessidade de realizar um exorcismo deve ser julgada com muito cuidado, após cuidadosa consideração e em fidelidade ao segredo confessional. Na medida do possível, a decisão deve ser tomada em consulta com especialistas da vida espiritual e, se necessário, especialistas em medicina e psicologia que demonstrem respeito pela realidade espiritual. O exorcismo deve ser realizado de tal forma que torne visível a fé da Igreja e não possa ser percebido como uma expressão de magia ou superstição. Nem deve ser considerado pelos presentes como uma encenação.

 

Você mesmo cresceu em sua fé desde que começou como exorcista?

Exorcista:  O serviço de exorcista deve ser deixado apenas a um sacerdote piedoso, esclarecido e sábio, de caráter impecável, especialmente preparado para esta missão. É claro que você cresce em sua fé e em sua vida espiritual exercendo a graça de Deus para uma pessoa ferida e sofredora.

 

Você tem algo que gostaria de dizer em conclusão para os católicos e outros que leem isso, e que acham o assunto assustador?

 

Exorcista:  Não tenha medo! A Igreja acredita firmemente que há um só Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, o único princípio por trás de tudo o que existe, Criador de tudo, visível e invisível. Deus protege e guia em sua providência tudo o que criou (cf. Col. 1,16).

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