O livro que não se encontra: “Mensagens do outro mundo sobre a Igreja do nosso tempo”

Há muitos anos esse livro é lido em sites mundo afora, mas a grande maioria das pessoas não faz a menor ideia de que trata-se dele.

No Brasil, conhece-se o seu conteúdo através de sites facilmente encontráveis nos mecanismos de busca com o nome

de “Revelações através dos padres exorcistas”, embora o nome do livro não seja nem de longe esse com o qual ficou conhecido. O livro chama-se “Mensagens do outro mundo sobre a Igreja do nosso tempo”.

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O título, desde o primeiro contato, dá-nos a impressão de revelar uma mensagem sobrenatural, vinda de um mundo que não é o nosso, distante e longínquo e procura inculcar um certo receio da mensagem que pode-se encontrar através de suas páginas.

Muitas pessoas, acreditamos que até bem intencionadas, divulgam esse livro com um certo pavor e receio. Transmitem a mensagem como se fossem páginas do evangelho de Jesus Cristo, cheia de “verdades” que aos desavisados e sem a fé alicerçada, podem trazer o desespero.

O editor, Bonaventura Meyer, afirma tratarem-se os escritos de um caso autêntico de possessão diabólica, do qual 8 sacerdotes de nacionalidade suíça participaram dos exorcismos, dois franceses e, ainda, 5 exorcismos teriam sido realizados na possessa pelo Padre Arnold Renz, SDS, um dos dois sacerdotes que cuidou do famoso caso Klingenberg, de Anneliese Michel, na Alemanha.

Chama a nossa atenção o destaque que lhe é concedido para tratar da revelação sobrenatural que, a princípio, é dada através dos demônios, revelado pelos próprios estarem falando por “ordens do céu”, mais precisamente da Virgem Santíssima.

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Em alguns sites em português, algumas pessoas – sabedoras da gravidade de ser dar atenção a revelações sobrenaturais vindas de demônios, ainda mais em exorcismos – a fim de creditar maior segurança às revelações, divulgam as mensagens como se tivessem sido dadas em exorcismos conduzidos pelo saudoso Padre Gabriele Amorth, exorcista de Roma durante mais de 30 anos. Nada mais falso!

Os exorcismos ali narrados e testemunhados, foram realizados na década de 70, um tempo onde o Padre Amorth nem exorcista era. Nessa época, para tal tarefa, Roma contava com o Padre Candido Amantini, mentor do Padre Amorth. Também não foram exorcismos realizados em Roma e sim, na Suíça.

Dos escritos, por tratarem-se de revelações particulares, é importante frisar uma nota editorial deixada pelo autor, a fim de dar a escolha ao leitor de acreditar ou não no que lerá nas páginas escritas:

“Apesar do testemunho dos Sacerdotes envolvidos e de outros peritos, desejamos declarar, de acordo com o decreto do Papa Urbano VIII, que a este documento só se pode dar uma fé humana. Submetemos a totalidade do texto ao juízo supremo da Santa Igreja.”

Em relação ao seu conteúdo, parece tratar-se de fato de exorcismos celebrados e, por  terem ali o testemunho de um dos exorcistas do caso de Anneliese Michel, são orações que de fato foram realizadas. Mas chamamos a atenção para as “revelações” ali descritas, temas muito sérios e que trazem alguns questionamentos importantes, principalmente por terem sido realizadas por “demônios”, onde o próprio ritual romano dos exorcismos recomenda a maior prudência possível e necessária, não se fazendo perguntas que não sejam úteis para a libertação do possesso.

Diz a regra número nº 14 do ritual romano do exorcismos de 1614:

O exorcista não se deixe enganar  por perguntas ou curiosidades supérfluas, especialmente sobre o futuro e o que está oculto, mas atenha-se ao que pertence ao seu ofício. O espírito impuro deve permanecer em silêncio e deve responder somente ao que o for perguntado e não creia-se facilmente que ele é alma de algum espírito, Santo, falecido ou Anjo. (Em tradução livre do latim.)

Impressiona, também, que seja dada aos demônios tamanha liberdade para falar e fazer revelações, como se fossem verdadeiros “catequistas”. É importante salientar que não estamos aqui tratando as celebrações dos exorcismos como falsas e nem que a possessa realmente não esteja nesse estado.

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A introdução com as informações ali apresentadas, inclusive com o testemunho dos muitos sacerdotes e a narração da vida da mulher possessa, fazem-nos acreditar que de fato tratava-se de um caso autêntico. Contudo, pareceu o caso não ter sido conduzido com a máxima prudência necessária. É consenso entre os exorcistas e o próprio Senhor Jesus nos alertou que os espíritos impuros são mentirosos. Por essa razão, não devem ser feitas perguntas inúteis e nem dar aos demônios maior atenção do que se fizer realmente necessário.

O livro é repleto do suposto testemunho dos demônios sobre o Concílio Vaticano II, a nova missa e práticas novas que foram introduzidas a partir dali, como a comunhão na mão. Além disso, são realizadas “revelações” que carecem de maior aprofundamento teológico e que não devem ser substitutas da revelação através da palavra de Deus, do sagrado magistério e da sagrada tradição da santa Igreja.

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Em resumo, são revelações particulares que não podem substituir a fé autêntica na Igreja e nos seus sacramentos. Os demônios apresentam seus nomes, dizem como é o inferno e a justiça divina. Colocam-se como se estivessem falando sob ordens da Virgem Santíssima e como portadores de uma “mensagem especial” que nunca tivera sido revelada. Não duvidamos que seja o maligno pela forma como se manifesta e pelos sinais que a possessa apresenta, testemunhados pelos padres. Mas o caso não parece ter sido conduzido de forma adequada, dando-se demasiada importância a situações em que o próprio ritual não permite que aconteçam. A fé da Igreja, não esqueçamos, não é alicerçada em revelações de espíritos malignos.

Ademais, o livro nunca foi editado por aqui, tendo as traduções em português sido retiradas através edição portuguesa.

Deus abençoe a todos nós!

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