Quando chegamos ao mês de maio, é inevitável falar das aparições de Nossa Senhora e o segredo de Fátima. Os acontecimentos marcaram a humanidade por causa do caráter sobrenatural das aparições da Mãe de Deus às três crianças humildes.
As aparições da Santíssima Virgem em Fátima são os acontecimentos mais importantes do século XX, marcado por duas grandes guerras mundiais. A partir de tantos erros da humanidade, não é difícil supor que a ira de Deus tenha se inflamado, fazendo transbordar o cálice.
Nossa Senhora veio para alertar a humanidade que era preciso rezar e fazer sacrifícios em reparação pelos pecados cometidos contra Deus e pela conversão dos pecadores. Nesse sentido, o segredo de Fátima utiliza-se de ferramentas espirituais acessíveis a todos os cristãos. Uma ferramenta das mais eficazes que Ela nos pediu que utilizássemos foi rezar o santo terço todos os dias.
A Mãe Santíssima ainda nos advertiu de que, caso não seguíssemos suas orientações, a Rússia espalharia seus erros pelo mundo.
A primeira revelação do que se convenciou chamar “O segredo de Fátima” foi assustadora para as crianças, que se apoiaram na promessa da Mãe de Deus de levá-las para o céu, a fim de resistir ao pavor do que viam. A Mãe Santíssima não queria apavorá-los, mas advertir do perigo que a humanidade estava se expondo caso não voltasse o coração para Deus. Toda vez que pensarmos no desespero sempre devemos lembrar: nossa mãe do céu zela por nós e quer lá cheguemos para honrar Jesus por toda a eternidade.
O segredo que Nossa Senhora veio revelar era compostos por várias partes e necessitou de algumas visitas maternas para ser revelado na íntegra.
No post de hoje você aprenderá:
- A primeira manifestação angélica
- O ciclo angélico de aparições
- O ciclo Mariano de aparições
- Qual era o objetivo das aparições?
- Sobre o segredo de Fátima?
- A terceira parte do segredo de Fátima
- O que aprendemos com Nossa Senhora?
A primeira manifestação angélica
A preparação para as aparições da Santíssima Virgem iniciou em 1915, com a aparição de um anjo no Monte Cabeço para Lúcia e suas três companheiras: Teresa Matias, sua irmão Maria Rosa e Maria Justino. As três rezavam o terço e o Anjo apareceu logo no início da oração, desaparecendo ao final. Segundo a narração feita nas memórias da Irmã Lúcia, o Anjo estava suspenso no ar, parecia uma estátua de neve transparente e os raios de sol o tornavam transparente.
Memórias da Irmã Lúcia I. 14.ª ed. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2010, p. 75.
Ao todo, foram 3 aparições angélicas no ano de 1916, preparatórias para as aparições de Nossa Senhora. A primeira aparição foi na primavera de 1916, na Loca do Cabeço, Pregueira, nos Valinhos, onde o Anjo se apresentou como “o Anjo da Paz”. Ele se ajoelhou em terra e pronunciou a seguinte oração que muitas vezes a pronunciamos sem nos dar conta de que foi ensinada por um anjo para a humanidade:
“Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos. Peço-vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam, e não vos amam.”
As crianças foram levadas a rezar sobrenaturalmente junto ao anjo e após repetir essa oração por três vezes, o anjo ergueu-se e disse:
“Orai assim. Os corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas.”
A segunda aparição do Anjo aconteceu no quintal da casa de Lúcia, junto ao Poço do Arneiro, no verão de 1916. O anjo os convocou a rezar muito e avisou que os desígnios de Jesus e Maria para aquelas simples crianças eram de misericórdia, que deveriam rezar muito e se sacrificar como um ato de reparação pelos pecados com que Jesus é ofendido, suplicando também pela conversão dos pecadores. O Anjo deixou claro que só assim a paz reinaria sobre Portugal e se apresentou para as crianças como seu Anjo da Guarda, o Anjo de Portugal. Advertiu-os a aceitar e suportas as provações que o Senhor os enviasse com submissão.
Memórias da Irmã Lúcia I. 14.ª ed. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2010 p. 170 (IV Memória).
A terceira aparição do anjo aconteceu no outono de 1916 e foi a mais emocionante. Transcrevemos o testemunho do acontecido das memórias da Irmã Lúcia:
“[…] trazendo na mão um cálice e sobre ele uma Hóstia, da qual caíam, dentro do cálice, algumas gotas de sangue. Deixando o cálice e a Hóstia suspensos no ar, prostrou-se em terra e repetiu três vezes a oração:
– Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-vos a conversão dos pobres pecadores.
Depois, levantando-se, tomou de novo na mão o cálice e a Hóstia e deu-me a Hóstia a mim e o que continha o cálice deu-o a beber à Jacinta e ao Francisco, dizendo ao mesmo tempo:
– Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus.
De novo se prostrou em terra e repetiu conosco mais três vezes a mesma oração.
– Santíssima Trindade… etc.”
Memórias da Irmã Lúcia I. 14.ª ed. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2010, p. 170-171 (IV Memória).
As aparições são separadas em dois ciclos: o Mariano e o Cordimariano.
O Mariano inicia-se com a primeira aparição da Santíssima Virgem, em 13 de maio de 1917 e termina com a sétima aparição em 15 de junho de 1921, somente para a Irmã Lúcia.
O Cordimariano é composto por três aparições que se iniciam em 10 de dezembro de 1925 e terminam em 13 de junho de 1929. Faz-se notar que a segunda aparição Cordimariana não é de Nossa Senhora, mas do Menino Jesus e a terceira aparição é da Santíssima Trindade, junto com Nossa Senhora.
A primeira aparição da Santíssima Virgem aconteceu na Cova da Iria e aconteceu para esclarecer qual era o propósito de Nossa Senhora. Ao ser indaga de onde era, respondeu imediatamente: “Do céu!” A doce mãe de Deus explicou que estava ali para fazer um pedido: queria que as crianças viessem ali por seis meses, todo dia 13. Ela explicou que apareceria ali ainda uma sétima vez e revelaria quem era. Lucia, pressentindo que estava diante de alguém importante, fez perguntas a Nossa Senhora sobre a guerra e se iriam para o céu, bem como de outras pessoas já falecidas. Uma delas já estava no céu e a outra ficaria no purgatório até o fim do mundo. A Santíssima Virgem perguntou se as crianças aceitavam sofrer para reparar o coração de Jesus que sofria com os pecados da humanidade ao que foi prontamente respondida com um estridente “sim”. Ela rezou com as crianças e ao final pediu que se rezasse o Terço todos os dias para alcançarem a paz no mundo e o fim da guerra.
A segunda aparição da Mãe do céu aconteceu em 13 de junho de 1917. A Santíssima Virgem queria que as crianças aprendessem a ler, rezassem o terço e retornassem no dia 13 do mês seguinte. Lúcia pediu a cura de um doente e a Mãe Santíssima foi clara: “caso se converta, alcançará a cura ao longo do ano.” Lúcia, com a ousadia dos santos, pediu a Nossa Senhora que os levasse para o céu. A resposta de Nossa Senhora deixou Lúcia triste, pois ela disse que em breve levaria Francisco e Jacinta, mas que Lúcia deveria ficar ainda mais na Terra para que Deus pudesse se utilizar dela para difundir a devoção ao seu Imaculado Coração. Vendo a tristeza de Lúcia, a Mãe Santíssima lhe disse que jamais estaria sozinha, pois seu Imaculado Coração a protegeria para sempre. Nessa aparição, a Santíssima Virgem deixa claro que as almas que forem devotas do seu Imaculado Coração serão e terão a salvação, sendo muito queridas de Deus.
A terceira aparição foi a mais impactante: Nossa Senhora mostrou o inferno para as crianças:
[…] abriu de novo as mãos, como nos dois meses passados.
O reflexo pareceu penetrar a terra e vimos como que um grande mar de fogo. Mergulhados nesse fogo, os demônios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas que delas mesmas saíam juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das fagulhas nos grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor (devia ser ao deparar-me com esta vista que dei esse ai! que dizem ter-me ouvido). Os demônios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões em brasa. Assustados e como que a pedir socorro, levantamos a vista para Nossa Senhora, que nos disse com bondade e tristeza:
– Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores; para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração. Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz. A guerra vai acabar. Mas, se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai a punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre.
Para a impedir virei pedir a consagração da Rússia a meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a Meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas. Por fim o Meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz. Em Portugal conservar-se-á sempre o dogma da Fé.”
Na quarta aparição a Virgem Santíssima pede que continuem a rezar o terço todos os dias, que voltem no dia 13 do mês seguinte e avisa que no último mês de aparição dirá quem é e fará um milagre para que todos acreditem. Avisa que curara alguns doentes que Lúcia queria apresentar durante o ano e com semblante triste, pede que se reze muito pelos pecadores, pois muitas almas estão indo para o inferno porque não há quem se sacrifique por elas.
Qual era o objetivo das aparições?
O objetivo central das aparições de Nossa Senhora em Fatima era reparar as graves ofensas a Nosso Senhor pelos pecados cometidos pela humanidade contra o Santíssimo Coração de Jesus e o apelo à conversão. Francisco e Jacinta foram ao céu com Nossa Senhora logo após o fim das aparições, Lúcia ficou ainda na Terra para propagar a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Também devemos lembrar que a Mãe de Deus veio para um trazer um convite a se oferecer a Deus em favor do próximo, do nosso irmão que se afasta e que necessita se encontrar novamente com Jesus, que é rico em misericórdia.
Fátima não é um acontecimento sobrenatural qualquer. Trata-se de um evento querido por Deus que alterou os rumos da humanidade e iniciou uma nova e importante devoção ao Imaculado Coração de Maria. Chama a atenção a preocupação da doce Mãe de Deus de que muitos estivessem caindo no inferno por profaná-la. A Virgem Santíssima não estava preocupada com sua própria imagem, mas com as almas que estavam a ofender o coração de Deus com os seus pecados. A Senhora do Rosário, como ela se apresenta próximo ao fim das aparições, convida insistentemente os videntes à oração e assim os ensina a encontrar a intimidade com Deus. Ao receber presentes humanos, como a água de cheiro, responde a Lúcia que no céu eles “não convenientes”, lembrando-nos que tudo aqui é passageiro, nosso lugar é a pátria celeste. Aos pedidos de cura, responde sempre que não curará a todos ou que para que alcancem tal graça, “devem se converter” primeiro. No fim, Fátima é sobre a mudança, a correção de rotas em nossa vida, a madura reflexão de que o nosso lugar é o céu e para ir para lá, devemos nos esforçar.
O segredo de Fátima é composto de revelações que constituem partes. A primeira parte foi a visão do inferno, que Nossa Senhora deu a conhecer para as crianças. A segunda tem a ver com a propagação do culto ao Imaculado Coração de Maria e a segunda Guerra Mundial, que foi, junto com a primeira, meios que Deus usou para punir a humanidade por seus reiterados crimes e ofensas contra Ele. A fome e as perseguições à Igreja e ao Santo Padre também foram descritos por Nossa Senhora e não podemos esquecer da importante revelação sobre os danos causados pela Rússia ao mundo com o comunismo. A terceira parte merece uma reflexão aprofundada.
A terceira parte do segredo de Fátima
Foi na passagem do segundo para o terceiro milênio que São João Paulo II decidiu tornar pública a terceira parte do segredo de Fátima. Esta foi escrita por ordem da Santíssima Virgem e do Bispo de Leiria-Fátima em 03 de janeiro de 1944. Desde 1957, o envelope lacrado estava em poder do Arquivo Secreto do Santo Ofício e só poderia ser aberto pelo Papa. São João XXIII e São Paulo VI o abriram, mas decidiram não publicar seu conteúdo. Já São João Paulo II, após o grave atentado que sofreu em 1981, pediu para ler seu conteúdo, tomando por decisão não o publicar imediatamente. Sua publicação aconteceu no ano 2000 e causou alarde no mundo quando se soube que o atentado que São João Paulo II sofrera havia sido previsto por Nossa Senhora.
Leia aqui o documento da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé sobre A mensagem de Fátima
O que aprendemos com Nossa Senhora?
O chamado à conversão é um dos pontos principais da mensagem que Nossa Senhora do Rosário veio trazer para a humanidade. O segredo de Fátima traz um revigorar da fé: rezar pelos pecadores e fazer sacrifícios e reparações ao coração de Jesus, que sofre com o desprezo dos homens, é latente e deve contar com a nossa adesão de firme de fé. A reza do santo terço diariamente, adoração ao Santíssimo Sacramento e a oração reparatória, a comunhão e confissão frequentes e os sacrifícios pela conversão dos pecadores são ações que devemos tomar sempre, além de propagar a devoção ao Imaculado Coração de Maria.
E viva Nossa Senhora!
